terça-feira, 3 de junho de 2008

SALMO

Eu vou te reformar
Para sempre na linguagem humana
É preciso poetizar para não rezar
Não se entregar a dogmas
Em uma dispersiva tentativa de êxodo
Onde nunca e a qualquer momento se lança uma tentativa de pureza
Onde o mar aberto não te encontra
Onde qualquer dia o jogo ganha forma
Já que nas ilhas não se tem fuga a um lugar utopico.
É preciso quebrar
Escandalizar
E doer
Em qualquer tentativa de espera
Para lá da linha do equador
Por onde a poesia passa precisa e correta, onde me traz amor...
Esse vazio me rompe o corpo
Essa lança de mil dedos me rasga o ventre
Para lá, em cima das historias tristes.
Por onde passa a verdade
E qualquer poesia mancha de sangue todas as vontades
Grite e não se deixe
Lamba com meticulosidade as lanças livres
Que furam o olho de qualquer mesmice
Te entregues
Em qualquer sala de partida
Não minta, a poesia não suporta mentiras.
Na geografia de um lugar comum
Nenhuma língua santa canta um verso de lamento
Te entregues, depois da via Láctea.
Depois do corpo-santo
Existe uma mão, um acalanto.
Que precisamente te pegas o corpo nu
Não deixe de contar os traços
Rever os versos que vomita nessa pia
Fazer dos teus embaraços
Sua reza e sua poesia

David Cejkinski

Um comentário:

Danilo Thomaz disse...

Você realmente mudou de estação. Em tempos de aquecimento global, deixou de ser apenas outono. É as quatro estações num texto só. Podemos chamar de aquecimento literário. Abraços!