terça-feira, 3 de junho de 2008

MOFO E AÇUCAR

Finalmente era quinta-feira, religiosamente ele se preparou para hora sagrada de cada semana, colocou suas pantufas velhas e mofadas, vestiu com cuidado o pijama úmido do armário embolorado, o seu uniforme.Era onze da noite e a garganta já tremia na espera do doce destino. Pegou a chave na capanga de couro, presente de seu velho pai, abriu a gaveta como quem se prepara para uma boa foda e em um estalo retirou de dentro a ultima caixa de biscoitos franceses e amanteigados─ levemente açucarados que se diluíam na saliva como uma manteiga na frigideira quente.Sentou no sofá bordado com motivos campestres, olhou a vista da cidade no alto do décimo quinto andar de sua sala pequena e decorada com antiguidades, a velha já tirava um cochilo na poltrona ao lado. Passou a língua nos lábios como um selvagem que se prepara para atacar a presa, e finalmente ligou a televisão com o controle remoto remendado de fita crepe. Lógico que o canal já estava preparado, só utilizava o aparelho para este sagrado momento.O cardápio prometia: uma amante que por vingança matou a esposa de seu namorado, um travesti que torturou até a morte o seu marido e o grande final: o filho que matou seu pai a pauladas e estava foragido há três meses.Ele não usava cuecas por de baixo da calça de flanela.O primeiro biscoito desceu lânguido e arrepiou os seus mamilos flácidos, a velha resmungou alguma coisa enquanto dormia.Tudo era mofo e açúcar importado.
Dona Cilene (a nova secretaria do consultório) lhe invadiu o pensamento e fez ele derrubar um biscoito enquanto lembrava das enormes tetas morenas presas no seu malicioso decote rosa, pegou o biscoito do chão e deu uma leve soprada, não desperdiçava nenhum.Ficou desnorteado enquanto engolia o biscoito e via atento à cena hedionda do primeiro caso, o pau foi endurecendo involuntariamente, um calafrio invadiu as espinhas enquanto se deliciava com a lembrança do óbito do menino atropelado pelo caminhão enquanto andava de bicicleta na Dutra, chegou ao hospital sem chances nenhuma, nada ele podia fazer.
Repousou a mão com força sob o pau.
Ficou atônito com o travesti, nunca pensou em como podia ser erótico um transexual torturando e matando o seu marido de longos anos de convivência.Por um breve momento sentiu um tédio imenso e olhou para velha que babava e roncava enquanto ele esperava o termino do intervalo comercial.Eram sagrados aqueles minutos, poucas doses de felicidade que preenchiam sua vida medíocre, pensou em cometer algo realmente desesperador.
Chegou o grande final, comeu o penúltimo biscoito, ele já sentia a nostalgia do termino do programa e ficou profundamente abalado não queria esperar até a semana que vem. Logo esqueceu de toda melancolia, foi tomado pelo lirismo da ultima historia, tinha um tesão peculiar por assassinatos incestuosos.Gozou sem tocar no pau.Sentiu uma tristeza profunda enquanto o gozo descia entre as pernas e fazia mais uma marca esquisita no carpete da sala.Desligou a tevê, olhou a caixa de biscoitos vazia, olhou para a velha.Ficou ansioso como quando ganha um presente.Tirou o cadarço de seu sapato de couro, olhou o barbante com uma paixão imensa, esticou bem e prendeu cuidadosamente nas mãos.Foi em direção a velha como quando subiu no altar no dia de seu casamento.O barbante foi sua aliança, e no pescoço dela o laço sagrado.
Feliz, se sentiu completo.

Davyd Cejinski

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