terça-feira, 3 de junho de 2008

QUANDO A VIDA PEDE PASSAGEM ENTRE OS DEDODS DAS MÃOS

Ao som de Desafinado.

É esse vento forte Alfredo que cai fora das marginais e invade as ruas com a sustentação de todos os pulmões...Sabe Alfredo, faz tempo que não entendo essa torrente de pranto a invadir os prédios, as famílias, as pessoas, invade a mim com esse vazio imenso.Quando a vida pedir pra te deixar em paz, Alfredo, não de ouvidos a ela, se deixe enganar na beira do mar onde o tempo pára à espera de qualquer coisa que mude as marés do tempo.Quando criança eu menti para minha mãe que era feliz, lá pelos oito anos onde a vida é escola e festinha de colega, ela me via aos cantos quando todos dançavam Kid Abelha e brincavam de salada mista ou verdade ou conseqüência, eu acho que na verdade não foi nada disso.Faz tempo que já não entendo mais de mim, apesar de achar que muito sei de qualquer coisa.O importante eu acho, é que desde então minha vida é feita de conclusões umas tanto duvidosas, minha mãe perguntava: ”Querido, por que aí no canto? Ta tristinho?”, em silêncio afirmei para mim mesmo, mas nada disse a ela.Acho que essas coisas não se dizem a nenhuma mãe por mais verdade que isso seja.Para as mães os filhos são felizes e isso é sagrado. Já aos vinte e dois depois de muito blues e bossa nova, depois de muito processo criado com dor acho que encontrei a felicidade dobrando a esquina da Paulista com a Brigadeiro Luís Antonio.
Mesmo com o correio fora de moda decide te mandar essa carta porque não da para mandar via e-mail: Olha acho que agora vai dar certo! Nunca vou esquecer quando em Boiçucanga em um feriado chuvoso de final de ano nós discutimos feio por causa de uma bobagem qualquer que não me lembro, ou não quero me lembrar e desde então não mais nos falamos. Talvez por desinteresse de ambas as partes, talvez por que a vida passou rápido de mais ou talvez por qualquer uma dessas coisas que acontecem e não se sabe explicar o motivo.Na rodoviária você me disse que se um dia eu fosse feliz, se um dia eu me entendesse comigo mesmo era para lhe avisar com prioridade.Acho que essa hora chegou, pois bem Alfredo por mais ridículo que eu me sinta eu te comunico: Sou feliz. Pronto, acho que já disse tudo o que devia te dizer. Por mais que eu tente te escrever essa carta como uma verdadeira carta deve ser com folhas e folhas e rodeios e rodeios, a objetividade é bem cibernética, ninguém faz muitos rodeios por e-mail, as cartas já não são as mesmas, as confissões já não são românticas, viram fofoca ou deboche.Nada é mais levado a sério nem o romantismo, que atraso de vida também querer ser romântico ou existencialista na era digital, não?
As pessoas não têm mais tempo para ficar lendo tolices, as pessoas estão cada vez mais ávidas por algo que fale explicitamente ou implicitamente de sexo ou da vida do vizinho.Eu mesmo adoro revistas de fofocas, admito.Então pronto acho que já te disse o que precisava falar, me acredite agora sou feliz. Você deve estar no mínimo curioso para saber o que fez despertar tão estranho sentimento em mim? O mesmo vento que me invadiu aos oito anos.Invadiu minhas mãos, as unhas, os cabelos, a boca, o estomago, o sexo, a pele, os olhos o tempo.Logo ali: na esquina da Paulista com a Brigadeiro Luís Antonio depois de ver um filme do Bergman, acredita?Sim bem do Bergaman onde a vida é trágica e silenciosa. Desci para ir à padaria comprar cigarros e a vida pediu passagem em uma tarde perdida vendo filmes de arte sobre as frestas dos dedos para depois invadir o que já te contei. Até mesmo joguei o maço de cigarros novinho fora. Eu e os passantes éramos felizes, sei que todos eram e eu não sou de achar que todo mundo sente o que eu sinto, sim por que sempre tem esses (as) chatos (as) que acham que todo mundo sente, pensa ou quer a mesma coisa que ele (a). Eu só sei e pronto. E essa não é mais uma conclusão duvidosa.



























Será?

David Cejkinski

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