segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Pronto socorro

Ando cobrindo meu corpo
Rodeando seus olhos
Exibindo o vazio
Gritando injurias
Afastando promessas
Rezando baixinho
Um mantra
Um santo canto vasto-horizonte
Para espatifar depois
Dois sorrisos
No céu
De sua boca

Quero deslizar um tanto quanto um tempo
Tanto, tanto...
Guardado no peito
Na fonte da pele
No cheiro mais dentro
Navego e quebro
O Pronto-socorro
De mim

Era para existir um cenário
Um camarim-vermelho
Na entrada do espelho
Ser feliz em fevereiro
Esperar o ano inteiro
Vasto encontro ruim!
Quero sim
Um jeito gelado por dentro
Um encontro marcado no breu
Vou ser assim errado
Todo seu
Aquele doente
De novo
Pornto-socorro-de-mim

David Cejkinski

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Fui me desfazendo lentamente
Rompendo, eu
Varri as minhas sobras
Para baixo do tapete

David Cejkinski

sábado, 29 de janeiro de 2011

Para Carolina Angrisani

Diferente são suas rodovias
Seus painéis de silencio
Estampados para quem quiser ouvir
Tal alegoria
Diferente são os seus precipícios
Suas cicatrizes
Sua boca
Sexo, edifício
Marquises
Dor
De passagem na estação de metrô

Vem, vamos valsar em outros trilhos
Outras mentiras-mortas
Outros amores de cristal
Vamos equilibrar a felicidade
Não usar aquela coberta-saudade
Que vem sempre nos permear
Vem, dizer que a vida é torta
Lançar sua historia posta
Em violinos desafinados para nos julgar

Quero secar sua maldade
Arrancar pedaços dos teus cabelos-nostalgicos
Esfregar em teu corpo este teu calendário
Suas cinzas guardadas nas dobras da pele
Que deslizam por onde passas
Derramando uma estrada
De amor e ausência

David Cejkinski

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Manifesto

Vou deslizar as mãos sobre suas vértebras
Aradas, prontas para vestir de mansinho
Meu manifesto atlântico
Úmido e desesperado por um sorriso
Vou assoprar os vários anos no canto da boca
Lamber devagar qualquer felicidade
Que deixas derramar
Por entre os tapetes
Dias
Versos estacionados na esquina
Essa sua mão
Um novo manifesto
Suado, em uma carta de amor

No sinal amarelo
Por um instante parecia dar certo
Era deserto?
A cidade e o caos?
Veja esse nosso manifesto
Um difícil momento final
Para dar partida
Teus olhos-pacatos-vazios-um-desvio
Para a marginal
Que já somos
Uns tantos anos
Perigosos
Passionais?
Tatuado no corpo
Suado, uma carta de amor

David Cejkinski

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

È preciso arar o corpo
Sovar o pão
Arrumar os copos
Beber o calendário
Enfileirar o esquecimento
Pregá-los nas paredes
E encarar
Viver as pequenas lembranças
Se jogar de balão
Ser nuvem esplanada
Ser(tão)
Qualquer coisa
Um novo horizonte...
Em véspera de fim de ano

David Cejkinski

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tão importante
Abrir a pele
Mexer nas vísceras
Ser sempre tão...

Quebrar as vértebras
Varrer os cantos
De silencio
Olhar o céu...
Ser sempre tão...

Arrumar livros na estante
Desesperos velados
Enfileirados
Esse jeito displicente de amar
Ser sempre tão...

Um verbo a rodar na boca
Caindo no ar
Essa coisa esquecida...
Ser sempre tão...

David Cejkinski

domingo, 28 de novembro de 2010

Confissão

To trazendo na mala uma coleção de paisagem
Para assistir feito cinema, com óculos escuros na cabeça
Desejo é filme
Paisagem que se vê pra sempre na pele
Minhas mãos estão paradas em sinfonia torta
Bernstein cansado
Maestro equivocado
Imagens perdidas espalhadas pelo chão do quarto
Um dia de sol encontrado nos pelos
Uma memória de açúcar
Aquela imagem cítrica nas dobras da pele
Em panela de algodão doce, festa-de-criança-menino
Quando um sorriso era mais simples
Amar as pequenas coisas
Ver as pequenas vitórias, chorar histericamente nas pequenas perdas
Vem, que eu quero abrir essa mala e espalhar pela sala
Sorrisos, mortes, dias de parede, poemas engolidos, doenças sintomáticas
Para sambar depois
Um dia faceiro
Encontrado nos cabelos
Depois da corrida no parque
Ser feliz não é fácil...

Em um dia-diário
Essa confissão de bandido
Para colorir o silencio
Do carrosel-calendário

David Cejkinski