quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

È preciso arar o corpo
Sovar o pão
Arrumar os copos
Beber o calendário
Enfileirar o esquecimento
Pregá-los nas paredes
E encarar
Viver as pequenas lembranças
Se jogar de balão
Ser nuvem esplanada
Ser(tão)
Qualquer coisa
Um novo horizonte...
Em véspera de fim de ano

David Cejkinski

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tão importante
Abrir a pele
Mexer nas vísceras
Ser sempre tão...

Quebrar as vértebras
Varrer os cantos
De silencio
Olhar o céu...
Ser sempre tão...

Arrumar livros na estante
Desesperos velados
Enfileirados
Esse jeito displicente de amar
Ser sempre tão...

Um verbo a rodar na boca
Caindo no ar
Essa coisa esquecida...
Ser sempre tão...

David Cejkinski

domingo, 28 de novembro de 2010

Confissão

To trazendo na mala uma coleção de paisagem
Para assistir feito cinema, com óculos escuros na cabeça
Desejo é filme
Paisagem que se vê pra sempre na pele
Minhas mãos estão paradas em sinfonia torta
Bernstein cansado
Maestro equivocado
Imagens perdidas espalhadas pelo chão do quarto
Um dia de sol encontrado nos pelos
Uma memória de açúcar
Aquela imagem cítrica nas dobras da pele
Em panela de algodão doce, festa-de-criança-menino
Quando um sorriso era mais simples
Amar as pequenas coisas
Ver as pequenas vitórias, chorar histericamente nas pequenas perdas
Vem, que eu quero abrir essa mala e espalhar pela sala
Sorrisos, mortes, dias de parede, poemas engolidos, doenças sintomáticas
Para sambar depois
Um dia faceiro
Encontrado nos cabelos
Depois da corrida no parque
Ser feliz não é fácil...

Em um dia-diário
Essa confissão de bandido
Para colorir o silencio
Do carrosel-calendário

David Cejkinski

sábado, 20 de novembro de 2010


Para Ana Crista César onde quer que esteja

Havia uma carta atrás do espelho
Um relatório punk
First class, do you understand?

Um palco giratório
Gato preto em teus seios
Um anel fullgás
Borrando seu papel lilás
Um sentimento blue

...a canção na praia
Aquela poesia escrita na área
A brincadeira de se enroscar nas cortinas
Enquanto dormia
Outra razão
Um rasgo de mordida no colchão
Pequeno-caderno-de- gozo

Em teus pés
Um coração faroleiro
Em altar enfeitado para santo
Uma-tatuagem-em-mim
Quero sim
Um livro farto
Capaz de fino retrato
Um relatório punk
Diário, um mito
Explicando esse seu grito

Não fique irritado amor
Isso não é filosofia

David Cejkinski

domingo, 7 de novembro de 2010


Entre os passos do meu sapato

Trespasso meu corpo
De ultraleve
No meio de um dia-aspirina
Um bilhete-de-guardanapo
Abandonado em balcão de padaria
Intensidade, é noite
Por onde ando volante
De caminhão-doce
Sem amante

De outro prumo vou sem juízo
Um rumo metafísico
Verso de engano
Sentimento Latino na mão
Gesto dolorido
Um salto tamanho
Voz de soprano
Batendo no asfalto
Sem rede de proteção
Por que não?

David Cejkinski

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Depois da meia noite
A rosa dos ventos brotará em teus cabelos
Ela vai manchar sua pele de paixão cabreira
Virgem pronta para ser despedaçada
Por selvagem boca

Depois da meia noite
Os passos já não tem fronteira
Onde a pele rasga perdida de toda estribeira
Forte soco vai manchar historia inteira
Depois do gozo

Depois da meia noite
O lodo engole um vasto canto colossal
Pedras são atiradas neste carnaval
Um momento exato de ser poesia
Ou uma ilha

Depois da meia noite
Decido ou não se vou com roupa de bailado
Ou outro rosto neste meu noivado
Examinar toda minha vida, com despedida
Já sem saída nestes nossos olhos

David Cejkinski


domingo, 26 de setembro de 2010

A arma


Estendo os braços
Toco com as pontas de meu corpo-precipico
Esse lugar onde as ruas findam
As praças quebram
As noites evaporam
Os amores derretem
Você não tinha o direito de usar essa arma!

Os dias passam
Momentos degustados
Limpados em guardanapos
Nesse lugar onde as vontades calam
As pontes partem
As valsas escorregam
Você não tinha o direito de me apontar essa arma!

Com três momentos a queima-roupa
Com paredes cimentadas nas bocas
Era dezembro
Onde eu me perco
Bailo um tenso rodeio em despertar de outrora
Nesse lirismo-parto um desacordo nato!
Você não tem o direito de engatilhar a arma!

Passo-respiro-momento-e-fato
Faço um retrato nosso
Liso de desembaraço
Para estampar o café-da-manhã-burguesia
Mordo a carne de teus lábios
A pólvora desses nossos dias!
Na bamba janela canto
Triste valsa para dançar colado, ensangüentado no negro asfalto

David Cejkinski


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

As ruas vazias
Teu corpo um naufrágio
Precipício, estes teus olhos-semáforos
Na esquina sonhar
Atravessando suas ruas
No parapeito do prédio
Emolduro o teu córrego
Na meia sarjeta
Cólera e engarrafamento
E as ruas vazias
Meu jeito parado
A pele pelada
Meus beiços melados
Você melodia
Teatro, um conto santo-retrato
As ruas vazias
Meus olhos gozosos
Virilha-poesia
Teus salmos jocosos
No meio dos pelos
Meu jeito manso nos teus
Olhos
Minha boca arredia
Faz anos lunáticos
Uma cor perturbada
Borrando minha pele
E as ruas vazias
Minha voz de bandeira
Dançando valsa-besteira
Um jeito rouco de andar
Lilás, azul, manifesto
O horizonte mais perto
Lento, deslizo em teu monumento

No vazio do meu corpo

David Cejkinski



terça-feira, 7 de setembro de 2010

(Du Bocage)


Por essa fresta de noite vejo ondas festeiras
Minhas asas estão cortadas
Não satisfeito procuro uma ronda
Atiro num corpo que não se entrega
Velejo um momento de fulga na veia
Cidade-vermelha
Varanda-ladeira
Descasco uma estrada
Como-orgia
Dos livros marotos
Bocage-diz
Que vai pintar
Brutais vagões de desejo
Sol de Lisboa nos dedos tecendo
Os nossos passos varados momentos
De rompimento, vou a outro país
No telefone sussurre comigo no ouvido
Aquele amor-meretriz

David Cejkinski




quinta-feira, 19 de agosto de 2010



O que restou do sagrado eu amarrei no pulso feito fita-promessa
Eu joguei ao ar procissões metrificadas
Fui à busca de alvorada em liturgia
E só avistei desespero e agonia...
O que restou do sagrado eu amarrei no sexo o mau-olhado
Fiz outro manto de cristal-santificado
Já era hora de julgar a revelia
Uma folia, outro mote-ao-meio-dia
Você-suado-corpo-leite-derramado
Esfrega, esfrega e esvoaça
A reza-nossa-fonte arregaça
Essas nossas línguas-trapezistas
Nessa fita-queda-pouca-de-mentira
Minha boca busca rouca sua cria
Eu acarinho o estardalhaço do teu vinho
Risco teu peito com o batom-veludo-azul
E de novo caio naquele velho canto-blues...
Os teus vestidos estão rasgados pelo chão
Foram poemas que arranquei com minhas mãos

David Cejkinski


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Poema do não

Despedaça
Não, a fúria pede um abrigo
Não em dia normal
Dia-cinza-de-atravessar-a-vida
Diga
Outras matas, partes mortas, feras-gatas
Que desespera
E mia um vazio perdão
Não, diga-se de passagem esse é um poema do Não
Aos maus agouros da cidade e de agora
Sentindo um momento farto rompendo um laço de outrora
Deságua, estoura a bolsa e molha o chão
Neste que é um poema do Não
Rasgue a pele, procure saída, mexa nas entranhas em busca de vida!
Olhe o céu, mexa as mão, chacoalhe este recém-nascido em vão
Outros rompimentos estão
Encharcando o calendário, este umbilical-cordão
A morte veste a mascara
Visita um dia-porão
Dia porão é dia esquecido na pele
Preste bem atenção, vista outra roupa, atravesse a rua
Disfarce ao ver-se no espelho
Acene para uma criança então
E parta no porto-medonho
Essa lamuria
Este canto
Teu coração

David Cejkinski



domingo, 25 de julho de 2010

SEM SAÍDA

Olho nos teus olhos
E continuo lento
Como quem vai vivendo...
Quantas vitrines refletidas nos seus olhos?
Silencioso
Pássaro marrom na estrada
No-horizonte-barcas-partidas
No porto
Quem sabe? Quem entende? Quem explica?
Tamanha entrega...
Já ressuscita
Aquilo que mora dentro
É escuro
Manso e lento
De desespero
Chove, molha manhãs melhores
Outro amor a tempo
Fotografado anonimamente na avenida
Abraços marcados
Vento
Mortes, pontes, risos, seios
Para matar desejo
De embriaguez tomada
Valseia comigo dizendo
Uma opera-soneto
Outro apego
Outra lamuria
Beije-me em cada momento
De silencio vasto
Qualquer volúpia
Ondas, marés, são mortes batidas no cruzamento
Sinal vermelho
Mais uma vez outra paixão no fim do espelho...

David Cejkinski

domingo, 18 de julho de 2010

Manhã de Domingo

Mate essa minha boca de Hera
Este pão seco-amanhecido-com-dor-de-cabeça-domingo
Razão metralhada de momento farto e castigo
Parta para outro amor no Olimpo
Razão lancinante, roteiro escondido
Mate essa rua vazia
Rara fuga de espera
Nessa voz que me dera
Lambuze carnaval no umbigo
Reze maldito
Outro veredicto
Uma paz ruidosa ressoa na proa de vasto juízo
Reclame um amigo
Essa voz que me dera!
Lírico gozo que parte no corpo
Neste mês de falidos
As ruas reclamam por um folião destemido
Calendário a deriva
Um sopro-poesia
Nos raios momentos-primeiros-do-dia

David Cejkinski

quarta-feira, 23 de junho de 2010


Para Chico Ribas

Olhe dentro de meus olhos cinza
Toda vida derramada em Jack Daniel’s
Olhe por cima dessa ferida
O que sangra em minha lata de remédio?
Amores escorrem pelo corpo
É desatino, insensatez que você fez
Dançar a morte como valsa em meu juízo
Na cidade de onde eu vim calei talvez
No meio da vida, no meio do pouco que ainda tenho
Levo na mala trompetes de jazz, blues de absinto
Quero um livro que resolva meus perigos
Livre poema de onde eu tire algum amigo

No meio da paulista, cinzas matas revelias
Morei os dias nas paredes de meu quarto
Contei mentiras: armadas serpentinas
Jogando bola em Avaré ou outros matos
É que a vida, vida mesmo não me cabe
Quero pular de vez em quando o meu teatro
Eu sinto medo maremoto, contraponto
Lançar na nuca um revolver de boato

Olhe dentro destes meus olhos cinza
Um filme de Godard, momento exato
Estrada pronta, Kerouac-nostalgia
Vou deslizando algum álcool em meus dias...

David Cejkinski

sábado, 19 de junho de 2010

Ele dizia sempre que sim
Um amor largado no balcão do bar
Ele dizia em tempos de mascaras
Pregadas, sagradas promessas
Em algum prédio do seu desejo
Um tempo de memórias de canas
Soprados açucares
Em cabelos de anjos
Ele dizia que sim
Em qualquer avenida suja
Da America Latina
Minhas caladas historias de amor
Já é parte de guerra conhecida
Em outros continentes
O verde marcado em tuas fronteiras
Beijando teus olhos primeiro
Em derradeiro encontro
Repartido no meio
Como um salmo perdido em Israel
Encontro marcado
Pular mares mortos do mediterrâneo
Pular pares postos em bombas minadas no coração suburbano
Brasileiro
Perdido em tuas fronteiras ao pé do ouvido
Muçulmano, ou pai-de-santo em terreiro?
Livre momento santo para o corpo-paz
Livre! Eu dizia tanto que meu momento era fugaz...
Por isso venha me mostrar
Outras mentiras pretas em seu passado de gloria
Pois nada sei sobre teu país, sobre tua pátria
Esse corpo que mata adentra já desembarca
Outros terrenos e historias caladas
Abra as asas em pares-cidades-moradas-que-já-não-queres-nada
Em tua alvorada
Imaculada de sol
Ao redor de outros arcanjos peço-lhe então:
Profecias curadas de poesia ao meu coração

David Cejkinski

domingo, 13 de junho de 2010

(esque)cimento

Era preciso calar o corpo
Ser feliz no altar
Lançar a boca livre na noite
Ser rouco
Momento de ruptura fadiga

Era preciso matar aquilo que há por dentro
Sempre sendo
Qualquer coisa
Em pronta perda
Em transatlânticos
Em prantos abortos no atravessar da rua

Era preciso ser nua
Em oceano atlântico
Parabólica mascara
Radar de grande valia
Ser moderno em liturgia
Ser lúcido em poesia
Contradição

Era preciso um momento vão
Derramar minha garoa
Era preciso de proa
Em discussão de casamento
Velejar outro vento
Beber a cidade num copo com gelo
Virar desterro
No meu momento

Era preciso ruir os ossos
Achar o que late dizendo
Cobrir as orelhas de sol
Se proteger das horas
A velha maldição do tempo
Cobrindo a pele novamente e sempre de esquecimento

David Cejkinski

terça-feira, 8 de junho de 2010


Este sol redondo
Que bate no rosto
Me molha de paz
Correndo eu dizia
Em sua ilha
No meu partido
Já sou velho amigo

Este sol redondo
De bandas passadas
Queimando alvoradas
Nos pactos-peles
Náuseas rosadas
Um segredo desdito

O sol redondo
Medonho espelho
Em fevereiro
Ao gosto de deus
Eu alta saudade
Na terra boa
Esfreguei vontades

O sol no céu
O céu meu pão
Milhares de réus
Espalhados no mel
Em rotação
Mordo faminto
O meu vulcão

O sol me lava
Escorre dizendo
Em intuição
Eu sou anuncio
De rompimento
Na tarde de outono
Do teu porão

O sol mar de tantos
A sombra de todos
Respeita meus cactos
Grudados na pele
Nos cantos do peito
Lá sobram momentos
De transição

David Cejkinski

sexta-feira, 4 de junho de 2010


Sou gavetas
Bolsos
Quartos de hoteis abandonados
Sou paisagem
Viajem
Guardado no peito como bagagem
Abandono-saida
O que sobra nos cantos?
Daquela avenida...
Sou livros relidos
Cartas enviadas, ingressos perdidos
Endereços errados
Sou estrada-maratona
Jogado na onda
De outro pais
O que sobra nos cantos?
Do homem parado....
Sou roupas usadas
Malas desfeitas
Mudanças distantes
Lisos momentos
Para limpar a boca com guarda-napo
Ai quanta dor eu deixo
E mexo no eixo da minha poesia
Ai que quanta historia eu levo
Dizendo o momento de ficar cego
Ai quanta despedida
Virando na linha a certeza da vida
Ai quanta parte eu parto
Distante ligado em fino trato
Se sou transitorio
Efemera moda
Justo neste pais largado...
Encontro maos perdidas
Roupas forradas de solidão
Satelite exato
Bares baratos
Wyski virado em meia musica
O que sobra nos cantos?
Daqueles meus olhos...
Se sou personagem
Desfilo errado
Em tempos melhores
Madeiras talhadas
Erradas besteiras
No trem moderno mas apertado
Eu preciso ir embora
Para aquele momento de adeus mortal
Mar latente a qualquer hora
Sou lebre, fera desigual
Vestindo o corpo de caminhos
Sou sozinho
Destino

O que fica nos cantos?
Desse meu mundo...
David Cejkinski

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O que move dentro de ti é seco
Áspero
Largo e de fino trato
Mas com cara de espanto
E anda
Por oceanos
Fúnebre, e aquele tanto...
Num canto dos olhos
Nessa cidade sem horizonte
Distante
Afogado de pára-quedas
Saltos perdidos na rede
Malabaristas de ansiedade
Implorando respostas na esquina
Preciso de entrega louca na estação-cantante
As 13:30; horário de almoço
Nessa cidade sem horizonte
Gavetas serenas
Sorrisos descartáveis
Moradias portáteis de horror
Preciso de sua pele dentro daquela coisa áspera
Nessa cidade sem horizonte
Movendo-se dentro de nós
Todos –os-dias-repletos-urbanos
Brandos
Facadas de espanto no horário do rush

David Cejkinski

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Vou te lembrar mais tarde
Com aquele sorriso de baunilha no rosto
As mãos amassadas de serpentinas
O rosto colado no meu
Vou te lembrar talvez daquele nosso jeito de andar no campo
Tomar sol aos sábados
Vou te lembrar das minhas mãos coçando
Dos meus panos indianos cobrindo o corpo
Em tarde de julho
Com frio no rosto
E você beijando...
Vou marcar um encontro, lhe dizer o futuro
Parar no semáforo, olhar nos teus olhos
Acelar
Talvez a felicidade morasse ali...

Vou lhe apresentar quem sabe um espelho amassado
Passados velozes
Futuros improváveis
Vou limpar minha boca
Na montanha-russa
Da nossa historia
Quem sabe a felicidade morasse ali...

Me diz um livro-romance
Um caderno soturno
Diz outras liturgias
Momentos maduros
Mágicos e herméticos guardados nos poros
Imundos, mudos, paralíticos
Vou cantar um hino de repente, para lhe sacramentar o corpo
Amanhecendo com outras almas
Em revelias poéticas na beira da estrada

Quem sabe a felicidade morasse em mim.

David Cejkinski

quinta-feira, 8 de abril de 2010


Se não existem palavras
Meios olhares
Pretos avisos
Maus presságios
Profecias morais
Revelias
Se não existe poesia
More em outra cidade

Se não existem amores
Outras possibilidades
Se a cabeça anda torta
Os passos aguados
Os olhos murchos, parcos, pastos, mantos.
Traços

Se não existem certezas
Bailados mecânicos
Semáforos-portos
Meninas piscinas
Prantos pacatos
Lisos problemas
Dance grudado no seu amado

Se não existem navalhas
Memórias de cana
Estradas falantes
Se não existem mirantes
Profecias declaradas
Encontros partidos
Junte tudo em um grito

Se não existem balões
Coloque asas nas orelhas
Mentiras no céu
Momentos calados
Da casa morta
Confissões limpadas no guardanapo

Se não existem muralhas
Abençoe os atrasos
Atire pra cima lantejoula mofada
Esfregue sua vida nos cantos do espaço
Com sorrisos cuspidos
Menos melados...

David Cejkinski

quinta-feira, 1 de abril de 2010


Se hoje senhor é dia de gloria
Minha pele reclama um vento mais seguro
Do ventre da mãe
Karma-nascimento
Hoje descobri a morte
Andando na avenida central
Aceitando na pele a incompreensão da vida
Chupando de palitinho na beira da praça
Com óculos escuros, pedindo carona para outras estradas.
Me mude, me toque, diga que me ama.
A sensibilidade é uma poesia que engana
Nostalgia
De rezas praticas
De monumentos, pausas, anseios, pesquisas sentidas.
Menos elaboradas
Hoje senhor é dia de gloria
Para esquecer outras encarnações
Se entregar para o deleite dos planetas
Confissões-humanazinhas
Na beira da orelha de Deus
Hoje senhor é dia de comprar a morte na papelaria
E pregar no mural do quarto
Ser outro horizonte

Não sei de outras possibilidades
Não sei de outras quadraturas e sinastrias
Outros borrões que irão surgir em sua pele...
Não sei de seu horóscopo-dia
Hoje é dia de gloria
Já que não entendemos muito sobre nós
David Cejkinski

quinta-feira, 4 de março de 2010

Para Stephanie Habibb

Preciso da intensidade rubra dos fios de telefone
Dos emaranhados de dores
Cruzando satélites-lagrimas
Amanhecendo em outros aeroportos
Preciso do seu perfume no meu vaso
Sua pele sob minha cama-coberta-de-teu-sexo
Dos balões vermelhos estourados na frente do espelho
Paixões caídas pelo chão do banheiro
Eu lhe deixei uma mensagem rabiscada no bidê azul:
Hoje-quero-teu-sorriso-para-o-nosso-almoço
Vou fotografar bem pertinho dos seus olhos
Nossas imperfeições de alma
Quero sexodoer em você
Ser um blues-lilas
Com um batom vermelho borrando suas palavras-de-Cecilia-Meireles
Depois manchando o meu corpo
Testando minha paciência afogada
Transbordando em cada canto da alma
Uma lenda nossa
Para marcar nossos dias, em teus seios.
Que me aconchego, mamo, apelo, e sou todos os romances.
Dos trágicos aos sublimes
Vou te vestir todas as manhãs
Para sentir na minha pele aquele seu gosto irresistível de sal

David Cejkinski

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

(imagem de Vik Muniz)

Ela me dizia coisas sobre Fellini
Em Roma
Satyros com ternura e fitas carnavalescas no pescoço
Que deslizavam na acrópole
Oferecendo olhos-de-filme para os passantes
Que pulavam naquela vontade de monopolizar
A alegria
Ela dizia com um charme dos anos 30
Que não sambava na Bahia
Jogava confetes na sala de cinema para eternizar seu carnaval
Eram bocas de rouge-batom, espelho virado na tela, um cigarro a meio tom.
Na cama
Depois daquela velha cena sacana
Espalhava suas cinzas
No banheiro, cortina, para-peito, janela.
Dentro do peito escola de samba de verdade
Foliões na barriga, sombra nos olhos e aquele gozo nos pés.
Que mentiam para as câmeras
Vendendo harmonia
Na tela de cinema vazia
Seus olhos-redondos-verdes-filmes-enganos
Cantarolando marchinhas putanescas
Para seu amante
Em desalinho
Colombina bonita em sagrado vestido
Era descolorido
Em preto e branco
Seu mágico pranto, em close apelativo.
Para conquistar a grande Academia
Festival-melancolia
Aplaudindo aquela velha liturgia
Das serpentinas nos becos
Da maquiagem borrada
Da purpurina perdida
Carrosel-melodia
Das quartas-feiras quebradas
No calendário
Repleto de cinzas

David Cejkinski

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Já algum tempo sou aquela represa cheia na beira da boca
Que quando te olha nos olhos vaza
Sem navegar em nenhum oceano
Por isso iluminar sua pele
Por isso tuas vértebras desejantes
Desejo é fuga
Engano

Melhor outras maratonas
Outras chegadas, pódios, menos esperas.
Outras platéias
Pausas, silêncios, dor.
Outras mentiras
Musicas, milhas.
Paises

Preciso sair de repente falando outra língua
Te encontrar na esquina, combinar fracassos.
Entregar um bilhete-rubro-urbano
Falhado pela tinta suada
De nossas mãos
Parasitadas, mentes fartas.
Asfalto

Quero exterminar seus túneis místicos
Suas rezas matas
Seus altares
Sempre a me entregar na cama aflita
Já sou desespero
Inundação
Horizonte

Se sou transitório
Em outra parada perda
Outra estação de encanto
Era dentro do teu porto-estranho
Que fui lhe desejar o corpo
Mentiras em um livro escroto
Dizendo tudo
Nós

David Cejkinski

sábado, 30 de janeiro de 2010


Eu trago rosas para o meu corpo
Ofereço a mim
Paz enclausurada das montanhas chilenas
Abro sobre a pele e deságuo
Ondas marinadas de poesia

Que flutuam
chegam
estacionam
e silenciam

Hoje maremotos
Mansidão

Dentro de mim planta calma
Dentro de mim açúcar
Pasta doce de amendoim
Sereno sem fim
Sobre minhas matas
Olhos-bezouros
Castas gatas
Canoas-canelas
sem temperos
mazelas

trago rosas ao meu corpo
para soprar flauta doce
para rezar em hindu
tirar de mim outros tabus
se perder em jerusalém
falar em tupi guarani

pintar a pele avermelhada
ser paixão-sagrada
em frente ao relógio digital
daquela mesma avenida

David Cejkinski

terça-feira, 5 de janeiro de 2010


Acordei com uma saudade suada no corpo
De pura estrada
Larga e de alta velocidade
Rumo a um caminho de dentro
Comer pedras com os pés

Hoje acordei com uma vontade suada no olho
Para longe dos três morros
Por onde passo, danço
Historias velhas, outros planos
Por onde deito sumo

Quero ser imagem projetada em derradeiro urbano
Deslizando, lento-morto
Onde já me faço torto
Depois da curva
Hoje suei minha estrada-miragens
Sem nenhum step de coração
Vou partir menor, quem sabe
Vou partir em ti-monumentos
Vou partir em ti os sorrisos-fotografia
Vou partir-seus-olhares-mares
Com um vento-sul a dançar nos cabelos
Para lá de fevereiro
Serei menos carnaval fora de época

David Cejkinski