terça-feira, 3 de junho de 2008

CÉU

Eu te percebo sobre a mesa, todos os dias pela manhã emergindo da eterna falta de um abraço amistoso que confunde a minha ausência de chão. Sempre te espero em rotas lentas, onde jamais vai emergir tal euforia cinza, você me surpreende e aparece em horas finitas e quentes.
A paisagem nada mais é que a minha percepção.
Eu te acalanto em total fissura sem te perder por um momento de enfeite.
Já tem alguns dias que partiu e me deixou fantasticamente sozinho de algo que despreze o límpido.
Da janela vejo o dia amanhecer com filas intermináveis de urbanos nos pontos de ônibus
Eu levanto e me lavo, limpo os azulejos do banheiro, limpo a minha pele nauseada, limpo a alma com uma bossa nova e limpo a casa, passo aspirador nos carpetes, corto as unhas, esfrego o chão, coloco a cortina para lavar na maquina que faz um baralho esquisito,limpo a estante, os portas retratos, os quadros entediados na parece, tudo era limpeza e perfeição.Eu sei que não tem nada que te espante mais do que a beleza feita, sei que não tem nada mais irritante pra ti do que a certeza de um momento mais certo. Tiro os chinelos e fico sentado de frente pra cidade que amanhece fria.
Ela me entende.
A cidade responde.
A cidade é feminina, sabia?Já você, você é pressa, atraso, retorno,repetição você é paulistano.
Eu olho no céu de São Paulo a tua face cinza, maquiada da fumaça que te deixa mais verdadeira, sob este céu de tristeza os urbanos cumprem suas missões de maquina.
Seu charme destrutivo faz cada gozo um hino, sua vontade de miséria está estampada nas telas da televisão, do cinema, nos corpos dos artistas,em um altar de uma igreja qualquer em qualquer avenida, ou rua, tanto faz tudo é feito para passar e deixar, morrer e abandonar.

Davyd Cejinski

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