terça-feira, 3 de junho de 2008

ACALANTO

Sabe quando a cidade transborda as marginais de um tempo que não passou...
Talvez teus néons traduzem essa sua maquiagem de uma beleza artificial
Uma beleza feita desse ópio de cidade muda
É feita de mentira a poesia de pedra
Tem gosto de catraca corrida
No metrô em horário de rush

Passa, passa como pedestre com pressa em avenida larga.
Passa, passa e não sorri de graça no semáforo metal.
Passa e passa cada mão suada uma historia ouvida
E passa na vida essa métrica mecânica dos meus olhos tortos

A vida escorre no centro da cidade feito corrimão
Pernas longas de Anhangabaú
Faz tempo que o vento leste inunda as gangorras de valores
Listrados ternos cruzam em sincronia pura os andares de luxo
Cada qual tem destino de vinco
Acertados feito relógio suíço

Faz dias que a maré subiu na Santa Cecília
Faz dias que subi a avenida mesclada
Abrace-me bueiros e pedras
As lagrimas escorrem do meu asfalto ao teu
Somos feitos de nada e o concreto confirma a nossa frieza
Anchieta fundou em teu pátio um breu
Late como jesuíta na inquisição
E queima minhas pernas profanas
Lambe como alecrim a vida
E explode a ordem da historia
Nada completa na cidade que engana

Era feita de ópio a Meca de cocaína
Paraísos artificiais em cada esquina
Estupro e gosto de destruir minhas retas avenidas
Me encharco feito menina na augusta, com pernas longas e cinta-liga.
A sombra completa no cemitério volante
É um desfile notório de caixões ambulantes
De-me um dinheiro qualquer que te faço feliz na cidade

Por isso te acalme as pernas
Complete sua vida com minhas ruas paralelas
Feito metade de um transito
Ouço, ouço como um verdadeiro engano.
Então te acalmes
As buzinas colorem sua rua
Então te desacelere
E me bata com tuas faixas brancas no negro asfalto
Me tome como pedestre em avenida suja
E acalante minha magoas de pedra
Como em uma roda-gigante de solitários
Me de a mão no alto do parque
Tenho certeza que vamos conseguir conquistar as ruas de ladrilhos claros.


David Cejkinski 08/02/2008

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