quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Já é de manhã
E eu ainda não tirei aquela maquiagem do rosto
É de manha e o sol implacável chega para me descabelar a alma
É de manha e eu continuo cinza, pálido, fosco.
Como porcelana barroca
É de manhã e as emoções atropelam pedestres
Atravessam cidades
Engessam cenários
É de manhã e a doença persiste
Com aquele azul maroto nos lábios

É outra semana
E o sol embriaga
Os poros
Paredes vermelhas
Imponentes e passionais
De final de ano
Já são outros tempos e eu me rasgo completo
Outros capítulos
Outros sonetos
É de manha e ainda me resta agonia-celeste
O não acontecido
Espirrado sob a luz do quarto

É de manhã e eu me carrego todo
Em outras moradas
Sob outros olhares
Vou me ninar na luz dos fracassos

David Cejkinski

terça-feira, 17 de novembro de 2009



Já faz alguns meses
Estão dizendo por aí que tanto faz
Já não olho no espelho
Estão dizendo por ai que já fui
não sou mais
desisti
o amor acabou
já não olho com firmeza
Estão dizendo por aí que eu devia ficar quieto
não sou coerente
uma bifurcação no deserto
Estão dizendo por aí que minha poesia é uma reza
já não preciso dos anjos
estou sem Deus nos braços
Estão dizendo por aí que eu não sustento mais os meus edifícios
já não vivo apenas aguento
conto segredos para as paredes
esculpo loucura nas pedras

Estão rezando por mim em outros países
Estão me ligando para sanar meu poema

Querem acabar com meu hermetismo
Falar de acontecimentos precisos no dadaísmo
Fotografar estupidez armada
Em teus armários-corações
Poeiras, matas, sobre corpos tensos.
Dizer que não vale a pena
Estar com os olhos semi-abertos


Pacatos plenos previsíveis pessoas-poema
Deixem levar daqui meus conflitos-selvagens
Minhas con(tradições).

David Cejkinski
Revisado por Augusto Melo

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Eu vou tomar partido seu
Juntando os meus cacos
Para a partida do plano volátil
Na estação de trem partir é o que me resta

Corpos narrativos
Partir
Em teu partido
Foi a partida que me restou

David Cejkinski

terça-feira, 27 de outubro de 2009


Sim, sobre o amor talvez
Sobre recomeço
Novas eras
Outras pontes
Sim, sobre paixão talvez
Novos olhares
Plenitude
Sim, sobre olhos doces
Bichos de pé
Rosas, mares de algodão-doce
Em meu intestino salgado
Sim, sobre outros atlânticos
Outros parques
Rodas, moinhos, seios
Sim, sobre mães zelosas
Sobre tortas de maçã
Sobre mel e azeite
Sim para os domingos-bares
Malas leves
Rodoviárias-feriados
Sobre meus naufrágios
Com salva-vidas no fim do reinado
Sim para mantras doces
Para poemas plenos
Menos herméticos
Para contar paisagens
Para saldar sorrisos
Completude
Para juventude
Aquele momento de ciúmes antes do beijo
Para matar desejo
Para comer pipoca
Para levar bronca da velha coroca
Para aquela chuva turva no meio do campo
Para espantar o espanto
Cozinhar o medo
Com chocolate mergulhado na pimenta
Para mover os ombros, as pernas, o tronco
Se jogar na estrada
Alice desengonçada
E enroscar-desejos
Para os sertanejos
Fantásticas estrelas no céu limpo
Estampado no azul-celeste do nosso destino
Para matar trabalho
Na montanha-russa
Reduzir os templos
Falar menos fiapos
Mover de si todos os nervos
Massacrar neuroses
Entender-se inteiro
Para ser cabreiro
Em lama de gincana
Doer menos segundas-feiras
Tocar e sair correndo
Bater punheta
Lavar-se inteiro
Sacudir o braço da vó
Beijar-se no espelho
Amanhecer dançando
No meio da semana
Fazer cócegas-queridas-em-gente-fofinha
Menos teimosia
Vendo cinema
Com companhia plena de fazer perder o ar
Ser meio-metido-a-besta
Rezar baixinho
Pedir pra Deus fazer de ti o melhor caminho
Para cortar revistas
Dever-muito-chato-de-casa
Apostar corrida na Avenida Paulista
E pedir com muito carinho:
Mãe vamos embora!
Contrabandear adultos para o Paraguai
Comer nentilha numa cantina
Ver o Peter Pan na praia
Jogar confete na bolsa de valores
Musicar fagulha no Teatro Municipal
Imitando tenores!
Mascaras, bonecos, fases e pessoas desfilarão
Quando disser sim ao ultimo tango
Bailar aquela canção...

David Cejkinski

sexta-feira, 23 de outubro de 2009


Bares, brisas, falsas ondas
Outras náuseas
Casas, labirintos
Falsos passos
Outras aventuras
Eu já não ligo
Sou um interurbano
Lilás, no fundo de tarde da paisagem-pia
Reflexo de meus pés naquela bacia
Em outras moradas
Vestindo roupa de toureiro em balada
Eu já não vou mais
Já não estou mais
Já não espero mais
Eu estou seco
Sempre alem, parte de mim
Que se esvai
Em qualquer conversa maldita na beira do mar
Que sussurra:
Um dia sua profecia vai recomeçar
Absoluto
Concretamente surdo e mudo
Jogando comigo de terno e gravata
Over the rainbow
Encontrarei um sax-sofrido
Sexuando um gemido blues
Desesperado
No rosto: um meio sorriso-cortado

David Cejkinski

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Francis Bacon
Vou lhe dizer
Sou a maquina de guerra
Automóvel destruidor em rotativa espera
Vou lhe dizer a pátria se desespera
Com arranjos floridos de náusea
Caminhando, tremulas bandeiras assassinam os olhos
Por esses tempos
Hoje sou fabrica
Amanha sou morte
E depois quem sabe?
Sou um mártir
Repleto de medalhas e sorte
Depois da morte
Mirar uma ilha paradisíaca e se perder ali
Com meu corpo, minha industria
Procurar uma obra de Salvador Dali
E se eternizar
Como produto
Pego ônibus, lojas, bares, sou sempre tão absoluto
Que deslizo
Maremoto
Ando meio que de luto

David Cejkinski

terça-feira, 8 de setembro de 2009

NO AEROPORTO

As portas já estão abertas
As janelas rasgadas
Em pronta entrega
A mesa já não mais posta
Sem sobremesas
As aulas não vão começar
Relógios não despertaram
Para o ano novo que começa daqui a pouco
As palavras estão caídas
As promessas desfeitas
Os romances arruinados
Quando uma oração trafega em sua alma?

Os padres já pecam
E as putas perdoam
As promessas não findam
E os becos escondem vitrines
Os trajes serão largados
As profecias serão pagãs
Do outro lado da rua
O ano que começa daqui a pouco
Outras partituras e sonetos
Em outros dedos
Vão reger seu horóscopo-astral

Se vista de preto
Ande fumando no aeroporto
Coloque todas suas fichas no esgoto
Para onde voltarão?
Transeuntes, baluartes, internacional
No ano novo que decola de sua porta
Labirintos se trancaram
Lá no fundo esperançoso
De seu coração

David Cejkinski

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Ficou difícil, ensaiar sem semi tom
Desfazer meus riscos
Pele
Precipício
Juramentar voz de veludo
Cabaré mineiro
Descansando em pranto planalto
Ficou difícil desafinar em luz-neon
Jantar restaurantes lambuzados
De meu suor, plantas, poemas, livros usados
Para se deixar
Em meia linha, em meia vida, em meio céu
Cantar outro rumo-verso-moeda
Mostrar cartas fabricadas com um usado Neruda
E atravancar
Outros caminhos
Desobedecer à palavra lei de antes
Com outras roupas
Telefones ousadamente ocupados
Em sua casa de mexerica
Sem terraço
Para expandir-te
Para exprimir-te
Outra vez poesia

David Cejkinski

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

FOR SALE

Eu me diluo
Paz tremida
Redondezas
Exposto em vitrines
Galerias
Paixão
For sale

Pictóricas náuseas
Juventude
Aquele grito parado no peito
Eu troco minhas pernas, meus bueiros, eu me diluo
Em parapeito
Cítrico e sem bagaço
Perdido no céu de diamante
For sale

Grito
Porem me sinto outro
Aguardando a hora de entrar em cena
Eu me dissolvo antes do fim
Eu pulo do trampolim
Para a cidade
For sale

Aguardo a espera de um trem
Que me leve para longe
Onde eu possa me sentir
Apreender a chorar
Repetir, morrer quem sabe...
E em outra capital vou me habitar
For sale

Ser um punk underground
Investir cocaína na pasta de trabalho
Eu-meu-personagem-tassiturno
Noturno, trocando néons
Rasgarei aquele horizonte blue
For sale

Se continuo a andar
É com certo pranto nas minhas pernas
Se continuo a respirar
Vou falar em outra língua
Se o bem e o mal moram em mim
Eu me justifico
For sale

David Cejkinski


domingo, 26 de julho de 2009

Mais ou menos assim...



Eu que tudo posso
Vou mergulhar nos sete dias, alguns destroços.
Porque era preciso
Olhar o céu e perguntar o motivo do calendário lunar
E sua pele?
Salgada, árida, justa...
Meio São Paulo gasto de beira-mar
Hoje, sete noites virão manchas, sete cicatrizes virão arte.
Hoje, vou destroçar talvez a paz.
Abrir um buraco grande na parede e não atravessar
Não vou abrir suas cartas postadas de outras galáxias, não vou mais...
Em outros tempos jaz petulância ancestral
Em outros tempos visto outras roupas, terremotos.
Pessoas desfilam solidão em faixas de pedestre
Pessoas confessam sete pecados em mesas de bar
Sou um oráculo mal seguido
Sou de tanta luta um verdadeiro abrigo
Para se esconder em dia chuvoso
Se aconchegar em um cobertor inseguro
Que nada sabe
E mergulhar pelado em céu de concreto
Sete vezes tornarei deserto
E vou cobrir meu corpo de areia e sal
Me oferecer a um santo
Que não a você
Para rezar em outros altares
Pedir em sintonia plena outras vontades
Hoje, serei por um curto espaço de tempo: feliz.

David Cejkinski

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Este é um blog de autor, proponho aqui a colocar apenas o que é meu e mais especificamente ainda o que esta dentro do tema. Porém esse poema de Bruna Lombardi me comoveu muitissimo! E ele tem tudo a ver com o conceito dos meus poemas tambem, ele tambem é um pouco meu, e por isso o publico aqui:

PARA ANA C. E CAIO E TODOS NÓS

Era preciso fazer alguma coisa
pesquisar todas as malhas dos signos
os mapas, os índicos até achar
era preciso estudar
atentamente os orixás
a possibilidade de viajar
tentar o mar
era preciso escutar Keith Jarret suavemente
sem se afogar
um som, um meio tom, um quadro na parede
luz de neon, e abrir um verde escandaloso na parede
paisagem que não se vê.
Por que você?
por que não qualquer um de nós que já tentamos tudo
que nos drogamos profundamente conscientes
perdidos no urbano da cidade
os olhos úmidos, a sensibilidade
de um nervo exposto,nos sentimos
metade depois.

Quem sabe os astros, as ondas de energia, as coincidências
os vôos interplanetários, uma idéia de resistência
uma coisa meio Blade Runner em volta
a gente de saco cheio de John Travolta
tentando achar a porta de saída
Nos vestimos de branco, tentamos escapar
com alternativas, chás naturais, respostas no I Ching
dança, poesia, artes marciais
andróides, liberdade, ecologia
músculos, danger, punk, micros, Nova York
toda ideologia é sempre tão contraditória
talvez a salvação viesse em naves espaciais
atari, eletrochoque ou a própria loucura
talvez saber chorar ajude muito.

Era preciso rever o lugar da emoção
o sexo, essa coisa delirante
escrever um relatório hite do avesso
que falasse de telefonemas noturnos, insônia
Metal pesado

Você devia ter se segurado em alguma coisa
uma moda, um discurso, uma idéia de si mesma
- uma paixão que fosse -
qualquer coisa um mito, um guru, uma política
uma revolução, uma mentira
sei lá, alguma coisa pra se agarrar
talvez uma amiga como ela
um patamar
alguma coisa
antes de cair devagar
pela janela.

Bruna Lombardi

terça-feira, 14 de julho de 2009


Fétido Feto

Vou te explicar como funciona depois da noite
Matando poema para sobreviver
Abortando outros mares, eis meu fétido feto para contemplação.
Meu manifesto
Aqui, nesse meio de tudo apodrece imensidão maldita.
Aqui nesse meio de vida apodrece carne, osso, unhas, sonhos.
É de Morfeu sumido, é de outro paraíso, de outro carnaval.
Em outras Acrópoles
Embarcações perdidas com deuses naufragados em memórias esquecidas
É de perder de vista o horizonte do fétido feto
Correr maratonas urbanas girando feito uma gira de Umbanda
Quero falar com Deus! Quero falar com ti!
Eis aqui meu nome completo, eis aqui meu naufrágio, meu deserto.
Hermético
Para se expor em museu
Eu quero falar com Deus! Quero falar com ti!
Aqui tens minha placenta, retira dali todo poema que meu sangue pode dar!
È poesia, se liberte, se liberte, gire, gire e morra em trocadilho lento.
Noutros parques e tormentos
Procurando anjos para te sustentar
Onde mais podes ir entregar rebento?
Quero falar com Deus! Quero falar com ti!
Não deixe que as águas destruam muralhas
Não deixe descrentes invadir o templo
Preciso de amor que pinte as paredes pálidas
Vermelho transcendental de todas as encarnações
Preciso ser plano em outra cidade talvez
Preciso ser uma paisagem bonita para se escorregar
Preciso, preciso, eu quero.
Quero Falar com Deus! Quero falar com ti!

David Cejkinski

domingo, 5 de julho de 2009



DENTRO DE MIM É SÓ POESIA.

David Cejkinski

quinta-feira, 2 de julho de 2009


Para Camila di Stefano, Débora Gobitta,Jacqueline Torres e todas as mulheres.

Sempre sem mistérios

Eu gosto de ser mulher
O ser que brota abismos
Longe da terra
Sempre à beira mar, à deriva de qualquer historia.
Em terremotos frágeis
Que me dilui
Me traz cala frios nos lábios
Nos contornos, esse gosto que me suga mais
Para dentro e sempre fundo
Elevador de caricias
Milimétricas pistas
Morar a deriva
E o corpo renasce
Padece de útero
Escorrem óvulos ancestrais

Eu gosto de ser mulher
De beijar sem minhas línguas
Do tesão sempre à tona
De pisar em minha terra
Úmida, assassinada de fertilidade.
Amaldiçoada de vida
Nos vincos plenos
Como um grande campo em dia de sol
De rolar em mim mesmo
Sou o mar que acalanta e traz tempestade
Sempre naufraga de minha ilha
Na pele salgada
Do próprio veneno
Atlântida existe em minhas entranhas

Eu gosto de ser mulher

David Cejkinski

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Dia triste para cortar cabelos.Para deixar pedaços.Quebrantos risos.Traços.Mantras.Dia de desembaraços.Dia de cortar pedaços, de alimentar os erros, escalar desafios.
De cobrir o rosto com a mascara grega que te vende o jogo.No soco para-normal do rosto que te rodeia que te mata e te envenena logo que você desembarca.
Outras parcas.
Outras matas.Outras casas fatais vão te ruir os ossos.E te deixar poesia.Profética.Louca, silenciosa, que pasta em outras historias.E vai lhe deixar nos lábios uma pequena gota de felicidade.Para bois beberem em ti a água de sua natureza.Santa, imaculada.Dentro de ti corroí alguma fera
Dentro desse dia triste para cortar cabelos vou arrancar meus cílios, minha cara, minhas vísceras, meus venenos...

E me abandonar.

David Cejkinski

terça-feira, 16 de junho de 2009


Toca Discos

Aos poucos te degustar
Dilacerar o corpo em peso alto
Chupar suas ilhas na serra do mar
Liso, parco, feito um sol barato.

Onde já não te vejo
Afundar suas tetas, poças, ricas, tesas e tortas.
Furar minha casca morta, lisa de caranguejo.
Quando no momento, já não lhe vejo, já não me vejo.

Os mantras pulcros vão desaguar
Em dissonância arte conta sua ternura
Em rotativo verso junto à água suja
Dançar meticulosidade com uma estranha patrulha

Vou rir alto, amar alto e pular do alto em desespero.
Rasteira picada de jibóia-naja
Quebrar muros com o cotovelo
Marcar encontro, atirar em pele tua.

Onde sujo eu vou
Onde sujo eu como
Onde sujo estou
Onde sujo sufoco

Para prosseguir
Em corda bamba lusco-fusco de brinquedo
Encontro gato que passa a latir
Colo minha pele selando o nosso medo

Te encontrar nessas bandas
Gozar junto a estrelas caricatas
Não gostar mais de batata-fritas
E achar estranho comer com certo molho algumas baratas...

Eu não quero mais girar assim
Feito algodão-doce em panela junina
Sentindo de relance esse festim
Em um velho sucesso da Elis Regina

Então vou te falar, meu amor
Onde meu riso pasta em terra escura
Jurar no fim de um filme de horror
Um céu mais claro, quanta ternura...

Vou assinar contrato em seu umbigo
Voar livre em teus marasmos
Construir assim nosso abrigo
Semeando risos em outros pastos

David Cejkinski

sábado, 6 de junho de 2009


Ele quis ir embora
Em dia festivo
Ele só quis ir embora

Para recomeçar a dançar em outra hora
Para amar em outra valsa de ilusão
Cantar em outros paises
Ganhar tostão suado com lirismo

Ele se atirou em Budapeste
Ele morreu na Polônia em um campo de concentração
E foi fênix luminosa na Itália
Quando não era páscoa
Comendo panetone fora de época

Veio sambar no Brasil
Entendeu do que era feito o samba
Ele só queria ir embora e acabou na avenida
Batendo os pés ritmadamente ao som de serpentina

Já com cem anos
Já com calos na boca
Já com uma certa censura nos cabelos
Já com algumas musicas em seu corpo
Ele gritou dias melhores
E eles vieram.

David Cejkinski

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Pequenas coisas ridiculas da vida:

Ando ouvindo e gostando de Roberto Carlos.
Ando querendo me acabar em qualquer amor-sonho de valsa, e me lambuzar, como nunca.

David Cejkinski

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Talvez em outra noite...
Com pernas mais largas
Tristonha sinfonia ira mergulhar em bueiro
E se esvair
Talvez em outra tarde-roda-gigante
Ou em outros medos
Com outras peles, bocas, pelos...
Que não se completam
Mais se entendem, não renegam.
Talvez noutros parques, em outras fases, com outros amigos.
Sábados melhores
Vou um dia,

perguntar ao mar:

Cadê minha calmaria?

E vou velejar em fronhas...
Roçar em cítricas janelas
E se for preciso então:

Me afogo nelas

Com paisagens cor-de-rosa enfiadas em espetos de churrasquinhos
Outro molho vai me acompanhar
Outras bocas, outros vinhos.

De nada vai me adiantar outras manchetes
Hematomas, profundos precipícios nos cílios.
Nada vai adiantar outras emendas em minhas mãos

Então grito de minha janela:

Se a saudade dói, assassine ela.

David Cejkinski

quinta-feira, 14 de maio de 2009


Para os artista que construiram o espetáculo “Justine”

Por favor, me largue por ai!
Em hemisférios terrestre,
banido e sultão.
Que já tem alguns meses que o meu coração pede
Grita!
Eu quero ser libertino e reverter à vida!
Do avesso
Ah qualquer preço eu posso me quebrar
Por favor, não pare mesmo que de luto.

No mote o assunto é o que o final resolve
Sem pé na estrada
Sempre na estação
A voltar, a voltar...
De narrativas loucas que me destroem
Como dói
Como chora as vítimas em balões rasgados
Tetos de cinza
Mudos, apáticos.
Lombrigas a sussurrar esquinas, vadias, libertinas...
Com pernas santas que maldizem ao carrasco

Me liberte na vida, me liberte!
Me deixe ser libertino como um funeral terrestre!

A não ser que tudo morra um dia
Com urgência, com sangria...
A não ser que tudo sofra um dia
Com ganância, maledicência...
A não ser que tudo sangre um dia
Com chicotes mal tocados
A não ser que eu gema um dia
Com calmaria, sem arrogância.
A não ser que eu assassine um dia
Por capricho, puro gozo.

A não ser que eu não minta mais.

David Cejkinski


quinta-feira, 7 de maio de 2009


"Algo morno morre dentro de mim"

David Cejkinski

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Eu não sei se é a falência das coisas
O entortar das formas
O cansaço dos versos
O amolecimento das bases
Eu não sei se é o atravessar a rua
O maldizer dos tempos
A fraqueza das vozes

O que há de você, em você mesmo?

Noticias mancham de luto os seus desejos
Eu não sei se é mau caminho
Se é mau agouro
Se não é do meu destino
Ou se não faz parte de mim
Eu não sei se é para viver de novo
Será que é para deixar levar?
Será que é para marcar encontro?
Se tem remédio que possa me curar...
Eu não sei se é o dissolver das coisas
O desaparecimento

No breu, eu sei que toca lento uma valsa medonha para se bailar

David Cejkinski

sábado, 11 de abril de 2009

Anestesia

Batidas em pontos unilaterais do corpo
De passagem...
Despedidas.
Os cabelos deixam marcas de sangue por onde passo
Afogado
Em outros trens, outras estações...
Em revelias menores
Em bares por onde já passei
Um dia, que não seja esse vou marcar um encontro com minha alma.
E desaguar
Com os meus olhos a verter os afluentes de um rio amargo
Anestesiado em mar gelado
Com pedras de gelo para beber minha boca
Por passarelas planas onde a dor não é tragédia
Onde vou poder dançar outros tangos
Onde meu corpo terá espaço
Onde minhas mãos terão respostas indiscutíveis
Quando eu desfalecer será tão bonito como encontro sem despedida
Qualquer dia desse, vou renascer.
Um caminho sem náusea abrirá para mim
Lembranças de algodão doce rechearão o passado
A dor não terá mais lugar
As confissões serão mais sinceras
Um dia vou renascer
Com três palmadas mágicas antes do choro
Um parto sem dor
Sem anestesia
Sem abandono
Sem espera
Sem partida
Com um lugar ensolarado para mim.

David Cejkinski

terça-feira, 31 de março de 2009


Eu te convidei para um baile sem pára-quedas, no ultimo segundo antes do gozo.
Depois, depois da linha vermelha naquela área onde tudo é para sempre, e sempre foi.
Eu ouvi seus colares de peso em andaime alto
Eu te disse que depois da linha vermelha sempre terá um assalto a mão bandida
Transborde aqui neste templo qualquer ferida

Eu quero me curar

Em um tempo santo.
Mesmo aqui, depois da linha vermelha, trespassando o corpo e chegando em mim.
Só e para sempre eu depois dessa linha vermelha que transborda o seu
É fácil vomitar espaços perdidos
Quando se cala depois desse abismo
Parques de náuseas abrirão o pulmão fatigado de cigarro
Sempre atrás
Nesse sussurrar de marchinhas carnavalescas
Onde as máscaras caem sem paciência...

David Cejkinski
Obs: isso é antigo.... encontrei perdido nos arquivos, rs

sábado, 28 de março de 2009


E mesmo assim eu quero te ver
Com olhos de ressaca
Mesmo assim eu quero te ver
Ao planar da tarde
Do vazio planalto central
Seco, feito pão de agosto.
Amargo como setembro em guarda chuva perdido
Por que desde janeiro quero um abrigo meu
Um gozo meu
Ser feliz assim...
E é por isso que quero te ver
Com olhos de ressaca
Distante de qualquer manhã e abraçado-ao-pé-do-ouvido na serra da Mantiqueira.
Dizer sinceridades e acabar com o nosso ar

É preciso ser poema a alguém
É preciso ser poesia na cidade

Pra persistir
Pra apenas- ser- e nada além.
Quero amargar menininhas e sugar outros lentos
Eu quero
Mesmo com os enfadonhos olhos de ressaca
Pior do que sexo repetido com a pessoa mau amada.
Eu quero amar de outro jeito
Eu preciso de um cigarro-amante
Pra mirar outra cidade-volante
Que te destrói
Que te acelera
Em outra mata lutar para outra fera
A meretriz diz constrói eu sou feliz
Se tanto faz que me animar é transgressivo
Metalurgir outros papeis, eu repeti
Outra vez, amanhã, com olhos de ressaca.
Acordar menos sentido
Outra vez
Amanhã
Acordar e dizer silêncio ao pé do ouvido
Outra vez quem sabe vou pedir
Outra vez
Para sempre
Em uma manha de agosto
Dia de aniversario
Dia de parabéns-a-voce-mais-uma-sobrevida-na-coleçao-dos-seus-dias
Parabéns.
Parabéns...
Parabéns!


David Cejkinski

domingo, 22 de março de 2009

Eu vou fazer um poema de plantas baixas
Rasteiras fagulhas em sagrados anseios
Onde o riso pega
E se desespera logo à noite após a festa

Eu vou fazer um poema para sacramentar o meu corpo
Para sussurrar outro esgoto
Para me limitar em outras frestas
Que não abrem, que se calam, que se trancam mesmo sem fechaduras.
Portas batem, mentem e se lamentam tanto...

Quero fazer um poema-reza
Para justificar outras metas, para rodar em outros corpos, para me livrar de outros céus.

Vou poetizar na amargura
Vou me suicidar feito musica
Vou mentir até ver outro horizonte...

Luzes são como pedras no precipício
Não quero outro que me de um chão
Quero queda direta ao previsível abismo
Métricas dão ao juízo outro tipo de coração

E na solidão outra hora outros passos
E na solidão metas fracassadas, desembaraços...

O poema é uma bandeira
E o poeta não tremula leve sobre os céus
Engata a primeira nesse abismo
Estatelado já se cobre de um juízo
Duvidoso, previsível, mentiroso...

Outros tempos ─ diz o corpo.
Outros dramas diz─ o cérebro.

David Cejkinski

domingo, 15 de março de 2009


È quando não estou em mim
E vou assim, não sei pra onde.
Entre outras tormentas
Entre outros muros arranharei a fuga
È de dentro que me perco no chão do corpo
È de fora o respiro suave, outra hora mansa que me invade.
Quando varrer os medos é o caminho
Quando aliviar e limpar a nascente é o melhor remédio
Quando se perder tem algum sentido
Quando o romance se escreve e não é escrito
Outra hora
Metade nova
Que tanto passa noutras praças que não chora
Voz de dentro quando cala não tem hora
Outros tempos
Desaforo
Ao lançar metas livres do ponto de partida ao retorno
Que se desespera
Depois se cala, não se apega.
Se desfaz
Como um rio
Lamentando o desaguar feito um arrepio
David Cejkinski

segunda-feira, 9 de março de 2009

" Tudo o que vira poesia é castigo"

(por esses dias)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009


"Você ja teve vontade de partir o seu corpo para procurar sua alma?"

David Cejkinski

terça-feira, 27 de janeiro de 2009


Talvez eu te amasse
Contigo moldurando anseios
A qualquer piso
Se me pegas por tão pouca coisa
Rotinas plácidas

Contemporâneas

Meladas de tanta arte em meu corpo

Eu queria dizer que meus hormônios lanceiam aos teus pés...
E se eu te dissesse que ando chupando bala de ansiedade em Veneza?
E se eu te dissesse que ando meio amargo e exposto no aeroporto?
Para ser comprado em viagem de negócios
Para ser amado a contragosto e outros pratos

Tendo que bailar assim..., Cantar assim..., Se vestir assim... Escandalizar assim...

Contemporâneo

Plástico e abstrato em bordeis de fino trato com a burguesia
A desfilar pela Europa com Claudel esculpindo o meu destino
È de desalinho
é de perder de vista...
Em pistas mais quentes que a do Arco do Triunfo
Cantando aos passantes hinos desconhecidos em qualquer canto do mundo

David Cejkinski