domingo, 13 de junho de 2010

(esque)cimento

Era preciso calar o corpo
Ser feliz no altar
Lançar a boca livre na noite
Ser rouco
Momento de ruptura fadiga

Era preciso matar aquilo que há por dentro
Sempre sendo
Qualquer coisa
Em pronta perda
Em transatlânticos
Em prantos abortos no atravessar da rua

Era preciso ser nua
Em oceano atlântico
Parabólica mascara
Radar de grande valia
Ser moderno em liturgia
Ser lúcido em poesia
Contradição

Era preciso um momento vão
Derramar minha garoa
Era preciso de proa
Em discussão de casamento
Velejar outro vento
Beber a cidade num copo com gelo
Virar desterro
No meu momento

Era preciso ruir os ossos
Achar o que late dizendo
Cobrir as orelhas de sol
Se proteger das horas
A velha maldição do tempo
Cobrindo a pele novamente e sempre de esquecimento

David Cejkinski