quinta-feira, 2 de julho de 2009


Para Camila di Stefano, Débora Gobitta,Jacqueline Torres e todas as mulheres.

Sempre sem mistérios

Eu gosto de ser mulher
O ser que brota abismos
Longe da terra
Sempre à beira mar, à deriva de qualquer historia.
Em terremotos frágeis
Que me dilui
Me traz cala frios nos lábios
Nos contornos, esse gosto que me suga mais
Para dentro e sempre fundo
Elevador de caricias
Milimétricas pistas
Morar a deriva
E o corpo renasce
Padece de útero
Escorrem óvulos ancestrais

Eu gosto de ser mulher
De beijar sem minhas línguas
Do tesão sempre à tona
De pisar em minha terra
Úmida, assassinada de fertilidade.
Amaldiçoada de vida
Nos vincos plenos
Como um grande campo em dia de sol
De rolar em mim mesmo
Sou o mar que acalanta e traz tempestade
Sempre naufraga de minha ilha
Na pele salgada
Do próprio veneno
Atlântida existe em minhas entranhas

Eu gosto de ser mulher

David Cejkinski

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