domingo, 22 de março de 2009

Eu vou fazer um poema de plantas baixas
Rasteiras fagulhas em sagrados anseios
Onde o riso pega
E se desespera logo à noite após a festa

Eu vou fazer um poema para sacramentar o meu corpo
Para sussurrar outro esgoto
Para me limitar em outras frestas
Que não abrem, que se calam, que se trancam mesmo sem fechaduras.
Portas batem, mentem e se lamentam tanto...

Quero fazer um poema-reza
Para justificar outras metas, para rodar em outros corpos, para me livrar de outros céus.

Vou poetizar na amargura
Vou me suicidar feito musica
Vou mentir até ver outro horizonte...

Luzes são como pedras no precipício
Não quero outro que me de um chão
Quero queda direta ao previsível abismo
Métricas dão ao juízo outro tipo de coração

E na solidão outra hora outros passos
E na solidão metas fracassadas, desembaraços...

O poema é uma bandeira
E o poeta não tremula leve sobre os céus
Engata a primeira nesse abismo
Estatelado já se cobre de um juízo
Duvidoso, previsível, mentiroso...

Outros tempos ─ diz o corpo.
Outros dramas diz─ o cérebro.

David Cejkinski

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