terça-feira, 31 de março de 2009


Eu te convidei para um baile sem pára-quedas, no ultimo segundo antes do gozo.
Depois, depois da linha vermelha naquela área onde tudo é para sempre, e sempre foi.
Eu ouvi seus colares de peso em andaime alto
Eu te disse que depois da linha vermelha sempre terá um assalto a mão bandida
Transborde aqui neste templo qualquer ferida

Eu quero me curar

Em um tempo santo.
Mesmo aqui, depois da linha vermelha, trespassando o corpo e chegando em mim.
Só e para sempre eu depois dessa linha vermelha que transborda o seu
É fácil vomitar espaços perdidos
Quando se cala depois desse abismo
Parques de náuseas abrirão o pulmão fatigado de cigarro
Sempre atrás
Nesse sussurrar de marchinhas carnavalescas
Onde as máscaras caem sem paciência...

David Cejkinski
Obs: isso é antigo.... encontrei perdido nos arquivos, rs

sábado, 28 de março de 2009


E mesmo assim eu quero te ver
Com olhos de ressaca
Mesmo assim eu quero te ver
Ao planar da tarde
Do vazio planalto central
Seco, feito pão de agosto.
Amargo como setembro em guarda chuva perdido
Por que desde janeiro quero um abrigo meu
Um gozo meu
Ser feliz assim...
E é por isso que quero te ver
Com olhos de ressaca
Distante de qualquer manhã e abraçado-ao-pé-do-ouvido na serra da Mantiqueira.
Dizer sinceridades e acabar com o nosso ar

É preciso ser poema a alguém
É preciso ser poesia na cidade

Pra persistir
Pra apenas- ser- e nada além.
Quero amargar menininhas e sugar outros lentos
Eu quero
Mesmo com os enfadonhos olhos de ressaca
Pior do que sexo repetido com a pessoa mau amada.
Eu quero amar de outro jeito
Eu preciso de um cigarro-amante
Pra mirar outra cidade-volante
Que te destrói
Que te acelera
Em outra mata lutar para outra fera
A meretriz diz constrói eu sou feliz
Se tanto faz que me animar é transgressivo
Metalurgir outros papeis, eu repeti
Outra vez, amanhã, com olhos de ressaca.
Acordar menos sentido
Outra vez
Amanhã
Acordar e dizer silêncio ao pé do ouvido
Outra vez quem sabe vou pedir
Outra vez
Para sempre
Em uma manha de agosto
Dia de aniversario
Dia de parabéns-a-voce-mais-uma-sobrevida-na-coleçao-dos-seus-dias
Parabéns.
Parabéns...
Parabéns!


David Cejkinski

domingo, 22 de março de 2009

Eu vou fazer um poema de plantas baixas
Rasteiras fagulhas em sagrados anseios
Onde o riso pega
E se desespera logo à noite após a festa

Eu vou fazer um poema para sacramentar o meu corpo
Para sussurrar outro esgoto
Para me limitar em outras frestas
Que não abrem, que se calam, que se trancam mesmo sem fechaduras.
Portas batem, mentem e se lamentam tanto...

Quero fazer um poema-reza
Para justificar outras metas, para rodar em outros corpos, para me livrar de outros céus.

Vou poetizar na amargura
Vou me suicidar feito musica
Vou mentir até ver outro horizonte...

Luzes são como pedras no precipício
Não quero outro que me de um chão
Quero queda direta ao previsível abismo
Métricas dão ao juízo outro tipo de coração

E na solidão outra hora outros passos
E na solidão metas fracassadas, desembaraços...

O poema é uma bandeira
E o poeta não tremula leve sobre os céus
Engata a primeira nesse abismo
Estatelado já se cobre de um juízo
Duvidoso, previsível, mentiroso...

Outros tempos ─ diz o corpo.
Outros dramas diz─ o cérebro.

David Cejkinski

domingo, 15 de março de 2009


È quando não estou em mim
E vou assim, não sei pra onde.
Entre outras tormentas
Entre outros muros arranharei a fuga
È de dentro que me perco no chão do corpo
È de fora o respiro suave, outra hora mansa que me invade.
Quando varrer os medos é o caminho
Quando aliviar e limpar a nascente é o melhor remédio
Quando se perder tem algum sentido
Quando o romance se escreve e não é escrito
Outra hora
Metade nova
Que tanto passa noutras praças que não chora
Voz de dentro quando cala não tem hora
Outros tempos
Desaforo
Ao lançar metas livres do ponto de partida ao retorno
Que se desespera
Depois se cala, não se apega.
Se desfaz
Como um rio
Lamentando o desaguar feito um arrepio
David Cejkinski

segunda-feira, 9 de março de 2009

" Tudo o que vira poesia é castigo"

(por esses dias)