segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Não me chamaram para orgia
E já não era a paz
Pútridos corpos arrastam madeiras
Marinheiros que fazem do sim um não
E já não era nada
Dizia a pátria
Com bocas de navalha
A sugar o chão
Já não era reza
Nem manta que acalanta o sexo
Não me chamaram as bacantes
Quando o primeiro sinal tocou
Evoé Baco! Um rouco gritou
Um sino sobrevoa o povo
Cantam-se hinos rasteiros de gozo
Não me chamaram para orgia
E nada mais importa
Quando sua menina arrisca minha pele de sua fé devota
Arrastam-se lagos
Padres benzem o chão
Quando já fugaz clareei as vértebras com sofreguidão
Molhar carícias, míticas milícias e jogar-se fora
Pasme a delicia...
De qualquer paixão
As ruas gritam patriotamente um hino melado
Boca mete língua em progresso
Loucos abrem portas para o abismo
Fecham ruas com câmeras de mijo
Jure para sempre um amor que se ausenta
Nos becos úmidos que levas escondidas em sua mão
Nos cabelos tecem falhas
Dentro do peito o relógio cai
A 200 km/hora em estrada de longa história
O orgasmo vem na vertigem de uma contramão

David Cejkinski

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Indicado a melhor ator em Gramado, que felicidade!!!

sexta-feira, 15 de agosto de 2008


Se você me transporta por entre naves loucas
Mecas
Espinhos
Por onde tu vais és a santa mão que lhe carregas
Como quer que nesse espaço eu me envolva?
Transbordo mantras, tantas como um Buda, e não diga que em dia santo vou encontrar outra alma que me envolvas

E se por tuas ilhas corres, por tuas bocas gozas, por entre os laços fechas.

O tempo

Que jamais espera o lírico encarregar o vento

Deixa eu amar no vento o tempo que perdi meu olho
Deixa transbordar o canto da parede náusea
Deixa que sempre tento dançar escolhas

Recifes
Corais
Folias

Me transbordarei em cada menina
Era verde cinza o céu que tu voares
Mas já decidi: é terra! Não palmares.
O abismo sã de marcha destruidora
Enfrentaram legiões e provas de amores
Me deixe nesse desaguar
Acolhe-me faz-me sentir-me adere-me
Expele a rã que vem desse meu mar
Adentrar, é prever sentimento barato
Compre todo o lirismo neste meu retrato!
Minhas janelas caem em direção ao vácuo
Os traços fluem enorme cachoeira

É fácil se destruir nas pedras
Cair do abismo, calar o corpo no penhasco
Foi para fora afluir o meu veneno
Puro desapego,
molhou todo esse barco-poema

David Cejkinski

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Burgueses


Eu me desfiz
Sempre
Na calada da noite
Do velho navio rompante
Em mar de sinos
Sem voz aveludada
Sem cigarros
Nas galerias com geladeiras
Vazias
Eu estou tão cansado
Como areia pisada
Na beira mar de outra historia
Molhada
Parte da cidade devora
Em outra hora, que não essa
Metade de abismo-historia
Outrora seria bergamota
Chupada com gosto no campo
No inverno
No entanto, traduz o método e enamora
Eu estou tão cansado
Traduzir espinhos, fadiga
Não há nada comparado em vida
Por que chora, chora feito corrimão no centro
Já que a cidade repara
Em metros-mediocres-malfeitos no chão
Dizia que tanto faz quando limpei o retrovisor-madrugada
Refletir imprevistos
Varados de noites suada
Eu estou tão cansado
Para me banhar em lodo
Longe do mar
Daqui
Perfeito arranho de trânsito-juízo
Logo ali na Alameda Santos:
Burgueses gritam roucos para se esvaziar.

David Cejkinski


Por entre as veias

Ele se sustentava bambo na encosta de sua varanda quando percebeu as paralelas agudas que existiam em suas costas, ele passava as mãos com paciência na lombar e acariciou sua pele como quem tatuasse com cuidado os anos pregados nas vertebradas. Verde escuro no horizonte da cidade enquanto a fumaça trespassava seus olhos deliciando a boca, filtrando o pulmão, caindo nas narinas e acariciando seu rosto já amarelado pelo tabaco. Era 5:15 da manhã e seus nervos doíam. Já há algum tempo se sentia mofado, até mesmo os moveis finos suavam frio no apartamento gelado de um bairro nobre, tudo era ausência nesses últimos anos. Por entre as veias sentiu uma cócega quente que invadia o estomago, uma fagulha morna no seu mar de placenta gelada.Sentou-se na ponta de sua poltrona marrom e sem querer fez mais uma das pregas do estofado de couro se soltar, já não fazia diferença, até mesmo ele já era frouxo, se desapegava fácil também de si mesmo. Foi a cozinha e amargou seu café, sim, não suportava doce em café, tinha orgulho disso desde a sua época de pracinha quando se masturbava entre as trincheiras. Achava tão erótico gozar entre a pólvora, no entanto tudo era tão gelado naquelas terras que o motivo principal da punheta não era o gozo, era porque lhe esquentava um pouco o corpo. Apesar hoje do frio não tinha punheta que resolvesse ele, mesmo se ele quisesse já não daria tão certo, se sentiu um verdadeiro incompetente.
Ligou ao auxilio a lista para ouvir alguém lhe falar gerúndios, sua folha de rascunho não cabia mais de tanto numero anotado, eram poucos os minutos de felicidade que vivia. Cronometrados 11 minutos no telefone, apenas para fazer valer o preço da assinatura. Quando desligava ia partir seu mamão para comer com granola, viva sempre de intestino preso.
Um pouco tremulo derramou algumas sementes de mamão nos azulejos alaranjados da cozinha, não viu nenhum problema em deixar eles por ali mesmo... Enquanto comia sentia um cheiro único vindo de sua mão, parou de levar os pedaços de mamão a boca para cheirar melhor o seu dedo, era cheiro de AS infantil. Nem duas vezes pensou quando já estava com aquele plástico rosa entre os dedos, e comia uma a uma das pastilhas se sentindo uma malvada criança. Era remédio e era infância, tudo que precisava.
Por entre as veias sentia uma calmaria estranha quando se levantou dos azulejos alaranjados, havia pegado no sono ali mesmo... Se levantou como se navegasse todo o oceano atlântico, era marinheiro e era corajoso por chegar ao topo de si mesmo, reto e mareado entre as sementes de mamão. Conseguiu com paciência chegar à sala, no espelho havia ele garoto alterando a temperatura do termômetro para mentir a sua mãe e não precisar ir a escola. Cambaleante ele ria daquilo de frente ao espelho, queria agora também poder mentir a ela que estava doente e que não dava para ele tentar a todo instante buscar a felicidade, por pura preguiça sempre tinha ausência nessa matéria.
Quis abraçar-se, mas não tinha braços que lhe envolve-se, os seus próprio já não queria, queria o outro, queria a presença de alguém. Quebrou o espelho na tentativa besta de alcançar sua mãe que olhava para ele criança fingindo que acreditava no termômetro, não se cortou tanto, mas o bastante para fazer uma boa sujeira no carpete persa da sala.
Durante um tempo ficou segurando o maior corte enquanto estava encostado na parede ao lado do espelho partido. Sentiu uma pequena mão passar os dedos em seu cabelo.
Não era nada, apenas o vento.
David Cejkinski