segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Não me chamaram para orgia
E já não era a paz
Pútridos corpos arrastam madeiras
Marinheiros que fazem do sim um não
E já não era nada
Dizia a pátria
Com bocas de navalha
A sugar o chão
Já não era reza
Nem manta que acalanta o sexo
Não me chamaram as bacantes
Quando o primeiro sinal tocou
Evoé Baco! Um rouco gritou
Um sino sobrevoa o povo
Cantam-se hinos rasteiros de gozo
Não me chamaram para orgia
E nada mais importa
Quando sua menina arrisca minha pele de sua fé devota
Arrastam-se lagos
Padres benzem o chão
Quando já fugaz clareei as vértebras com sofreguidão
Molhar carícias, míticas milícias e jogar-se fora
Pasme a delicia...
De qualquer paixão
As ruas gritam patriotamente um hino melado
Boca mete língua em progresso
Loucos abrem portas para o abismo
Fecham ruas com câmeras de mijo
Jure para sempre um amor que se ausenta
Nos becos úmidos que levas escondidas em sua mão
Nos cabelos tecem falhas
Dentro do peito o relógio cai
A 200 km/hora em estrada de longa história
O orgasmo vem na vertigem de uma contramão

David Cejkinski

7 comentários:

Danilo Thomaz disse...

Gostei da união de poema e diálogo; eu-lírico mesclado a outras vozes. Bem interessante. Parabéns, Dan

Ramon Mineiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ramon Mineiro disse...

David, Parabéns cara, você é um verdadeiro artista.
Fiz deste post o meu favorito! (Confesso que tive de lê-lo umas duas vezes, ahhaha)
Abraço!

Chico Ribas disse...

É uma obra prima.
Delicadamente agressivo!
beijos!

Anônimo disse...

isso me lembra tanto cazuza e mario de andrade

Maiderson Chrischon disse...

muito obrigado pelo comentário e pelas dicas! e meus parabéns tanto pelo blog quanto pelo filme, ambos muito bons. pretendo cursar teatro na faculdade, então espero que em breve possa dizer que sou ator também. grande abraço.
http://bestdamnshit.livejournal.com

Henrique Mello disse...

Lindo... bjs