quinta-feira, 19 de agosto de 2010



O que restou do sagrado eu amarrei no pulso feito fita-promessa
Eu joguei ao ar procissões metrificadas
Fui à busca de alvorada em liturgia
E só avistei desespero e agonia...
O que restou do sagrado eu amarrei no sexo o mau-olhado
Fiz outro manto de cristal-santificado
Já era hora de julgar a revelia
Uma folia, outro mote-ao-meio-dia
Você-suado-corpo-leite-derramado
Esfrega, esfrega e esvoaça
A reza-nossa-fonte arregaça
Essas nossas línguas-trapezistas
Nessa fita-queda-pouca-de-mentira
Minha boca busca rouca sua cria
Eu acarinho o estardalhaço do teu vinho
Risco teu peito com o batom-veludo-azul
E de novo caio naquele velho canto-blues...
Os teus vestidos estão rasgados pelo chão
Foram poemas que arranquei com minhas mãos

David Cejkinski


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Poema do não

Despedaça
Não, a fúria pede um abrigo
Não em dia normal
Dia-cinza-de-atravessar-a-vida
Diga
Outras matas, partes mortas, feras-gatas
Que desespera
E mia um vazio perdão
Não, diga-se de passagem esse é um poema do Não
Aos maus agouros da cidade e de agora
Sentindo um momento farto rompendo um laço de outrora
Deságua, estoura a bolsa e molha o chão
Neste que é um poema do Não
Rasgue a pele, procure saída, mexa nas entranhas em busca de vida!
Olhe o céu, mexa as mão, chacoalhe este recém-nascido em vão
Outros rompimentos estão
Encharcando o calendário, este umbilical-cordão
A morte veste a mascara
Visita um dia-porão
Dia porão é dia esquecido na pele
Preste bem atenção, vista outra roupa, atravesse a rua
Disfarce ao ver-se no espelho
Acene para uma criança então
E parta no porto-medonho
Essa lamuria
Este canto
Teu coração

David Cejkinski