quinta-feira, 29 de abril de 2010

Vou te lembrar mais tarde
Com aquele sorriso de baunilha no rosto
As mãos amassadas de serpentinas
O rosto colado no meu
Vou te lembrar talvez daquele nosso jeito de andar no campo
Tomar sol aos sábados
Vou te lembrar das minhas mãos coçando
Dos meus panos indianos cobrindo o corpo
Em tarde de julho
Com frio no rosto
E você beijando...
Vou marcar um encontro, lhe dizer o futuro
Parar no semáforo, olhar nos teus olhos
Acelar
Talvez a felicidade morasse ali...

Vou lhe apresentar quem sabe um espelho amassado
Passados velozes
Futuros improváveis
Vou limpar minha boca
Na montanha-russa
Da nossa historia
Quem sabe a felicidade morasse ali...

Me diz um livro-romance
Um caderno soturno
Diz outras liturgias
Momentos maduros
Mágicos e herméticos guardados nos poros
Imundos, mudos, paralíticos
Vou cantar um hino de repente, para lhe sacramentar o corpo
Amanhecendo com outras almas
Em revelias poéticas na beira da estrada

Quem sabe a felicidade morasse em mim.

David Cejkinski

quinta-feira, 8 de abril de 2010


Se não existem palavras
Meios olhares
Pretos avisos
Maus presságios
Profecias morais
Revelias
Se não existe poesia
More em outra cidade

Se não existem amores
Outras possibilidades
Se a cabeça anda torta
Os passos aguados
Os olhos murchos, parcos, pastos, mantos.
Traços

Se não existem certezas
Bailados mecânicos
Semáforos-portos
Meninas piscinas
Prantos pacatos
Lisos problemas
Dance grudado no seu amado

Se não existem navalhas
Memórias de cana
Estradas falantes
Se não existem mirantes
Profecias declaradas
Encontros partidos
Junte tudo em um grito

Se não existem balões
Coloque asas nas orelhas
Mentiras no céu
Momentos calados
Da casa morta
Confissões limpadas no guardanapo

Se não existem muralhas
Abençoe os atrasos
Atire pra cima lantejoula mofada
Esfregue sua vida nos cantos do espaço
Com sorrisos cuspidos
Menos melados...

David Cejkinski

quinta-feira, 1 de abril de 2010


Se hoje senhor é dia de gloria
Minha pele reclama um vento mais seguro
Do ventre da mãe
Karma-nascimento
Hoje descobri a morte
Andando na avenida central
Aceitando na pele a incompreensão da vida
Chupando de palitinho na beira da praça
Com óculos escuros, pedindo carona para outras estradas.
Me mude, me toque, diga que me ama.
A sensibilidade é uma poesia que engana
Nostalgia
De rezas praticas
De monumentos, pausas, anseios, pesquisas sentidas.
Menos elaboradas
Hoje senhor é dia de gloria
Para esquecer outras encarnações
Se entregar para o deleite dos planetas
Confissões-humanazinhas
Na beira da orelha de Deus
Hoje senhor é dia de comprar a morte na papelaria
E pregar no mural do quarto
Ser outro horizonte

Não sei de outras possibilidades
Não sei de outras quadraturas e sinastrias
Outros borrões que irão surgir em sua pele...
Não sei de seu horóscopo-dia
Hoje é dia de gloria
Já que não entendemos muito sobre nós
David Cejkinski