quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Francis Bacon
Vou lhe dizer
Sou a maquina de guerra
Automóvel destruidor em rotativa espera
Vou lhe dizer a pátria se desespera
Com arranjos floridos de náusea
Caminhando, tremulas bandeiras assassinam os olhos
Por esses tempos
Hoje sou fabrica
Amanha sou morte
E depois quem sabe?
Sou um mártir
Repleto de medalhas e sorte
Depois da morte
Mirar uma ilha paradisíaca e se perder ali
Com meu corpo, minha industria
Procurar uma obra de Salvador Dali
E se eternizar
Como produto
Pego ônibus, lojas, bares, sou sempre tão absoluto
Que deslizo
Maremoto
Ando meio que de luto

David Cejkinski

terça-feira, 8 de setembro de 2009

NO AEROPORTO

As portas já estão abertas
As janelas rasgadas
Em pronta entrega
A mesa já não mais posta
Sem sobremesas
As aulas não vão começar
Relógios não despertaram
Para o ano novo que começa daqui a pouco
As palavras estão caídas
As promessas desfeitas
Os romances arruinados
Quando uma oração trafega em sua alma?

Os padres já pecam
E as putas perdoam
As promessas não findam
E os becos escondem vitrines
Os trajes serão largados
As profecias serão pagãs
Do outro lado da rua
O ano que começa daqui a pouco
Outras partituras e sonetos
Em outros dedos
Vão reger seu horóscopo-astral

Se vista de preto
Ande fumando no aeroporto
Coloque todas suas fichas no esgoto
Para onde voltarão?
Transeuntes, baluartes, internacional
No ano novo que decola de sua porta
Labirintos se trancaram
Lá no fundo esperançoso
De seu coração

David Cejkinski

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Ficou difícil, ensaiar sem semi tom
Desfazer meus riscos
Pele
Precipício
Juramentar voz de veludo
Cabaré mineiro
Descansando em pranto planalto
Ficou difícil desafinar em luz-neon
Jantar restaurantes lambuzados
De meu suor, plantas, poemas, livros usados
Para se deixar
Em meia linha, em meia vida, em meio céu
Cantar outro rumo-verso-moeda
Mostrar cartas fabricadas com um usado Neruda
E atravancar
Outros caminhos
Desobedecer à palavra lei de antes
Com outras roupas
Telefones ousadamente ocupados
Em sua casa de mexerica
Sem terraço
Para expandir-te
Para exprimir-te
Outra vez poesia

David Cejkinski