domingo, 26 de julho de 2009

Mais ou menos assim...



Eu que tudo posso
Vou mergulhar nos sete dias, alguns destroços.
Porque era preciso
Olhar o céu e perguntar o motivo do calendário lunar
E sua pele?
Salgada, árida, justa...
Meio São Paulo gasto de beira-mar
Hoje, sete noites virão manchas, sete cicatrizes virão arte.
Hoje, vou destroçar talvez a paz.
Abrir um buraco grande na parede e não atravessar
Não vou abrir suas cartas postadas de outras galáxias, não vou mais...
Em outros tempos jaz petulância ancestral
Em outros tempos visto outras roupas, terremotos.
Pessoas desfilam solidão em faixas de pedestre
Pessoas confessam sete pecados em mesas de bar
Sou um oráculo mal seguido
Sou de tanta luta um verdadeiro abrigo
Para se esconder em dia chuvoso
Se aconchegar em um cobertor inseguro
Que nada sabe
E mergulhar pelado em céu de concreto
Sete vezes tornarei deserto
E vou cobrir meu corpo de areia e sal
Me oferecer a um santo
Que não a você
Para rezar em outros altares
Pedir em sintonia plena outras vontades
Hoje, serei por um curto espaço de tempo: feliz.

David Cejkinski

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Este é um blog de autor, proponho aqui a colocar apenas o que é meu e mais especificamente ainda o que esta dentro do tema. Porém esse poema de Bruna Lombardi me comoveu muitissimo! E ele tem tudo a ver com o conceito dos meus poemas tambem, ele tambem é um pouco meu, e por isso o publico aqui:

PARA ANA C. E CAIO E TODOS NÓS

Era preciso fazer alguma coisa
pesquisar todas as malhas dos signos
os mapas, os índicos até achar
era preciso estudar
atentamente os orixás
a possibilidade de viajar
tentar o mar
era preciso escutar Keith Jarret suavemente
sem se afogar
um som, um meio tom, um quadro na parede
luz de neon, e abrir um verde escandaloso na parede
paisagem que não se vê.
Por que você?
por que não qualquer um de nós que já tentamos tudo
que nos drogamos profundamente conscientes
perdidos no urbano da cidade
os olhos úmidos, a sensibilidade
de um nervo exposto,nos sentimos
metade depois.

Quem sabe os astros, as ondas de energia, as coincidências
os vôos interplanetários, uma idéia de resistência
uma coisa meio Blade Runner em volta
a gente de saco cheio de John Travolta
tentando achar a porta de saída
Nos vestimos de branco, tentamos escapar
com alternativas, chás naturais, respostas no I Ching
dança, poesia, artes marciais
andróides, liberdade, ecologia
músculos, danger, punk, micros, Nova York
toda ideologia é sempre tão contraditória
talvez a salvação viesse em naves espaciais
atari, eletrochoque ou a própria loucura
talvez saber chorar ajude muito.

Era preciso rever o lugar da emoção
o sexo, essa coisa delirante
escrever um relatório hite do avesso
que falasse de telefonemas noturnos, insônia
Metal pesado

Você devia ter se segurado em alguma coisa
uma moda, um discurso, uma idéia de si mesma
- uma paixão que fosse -
qualquer coisa um mito, um guru, uma política
uma revolução, uma mentira
sei lá, alguma coisa pra se agarrar
talvez uma amiga como ela
um patamar
alguma coisa
antes de cair devagar
pela janela.

Bruna Lombardi

terça-feira, 14 de julho de 2009


Fétido Feto

Vou te explicar como funciona depois da noite
Matando poema para sobreviver
Abortando outros mares, eis meu fétido feto para contemplação.
Meu manifesto
Aqui, nesse meio de tudo apodrece imensidão maldita.
Aqui nesse meio de vida apodrece carne, osso, unhas, sonhos.
É de Morfeu sumido, é de outro paraíso, de outro carnaval.
Em outras Acrópoles
Embarcações perdidas com deuses naufragados em memórias esquecidas
É de perder de vista o horizonte do fétido feto
Correr maratonas urbanas girando feito uma gira de Umbanda
Quero falar com Deus! Quero falar com ti!
Eis aqui meu nome completo, eis aqui meu naufrágio, meu deserto.
Hermético
Para se expor em museu
Eu quero falar com Deus! Quero falar com ti!
Aqui tens minha placenta, retira dali todo poema que meu sangue pode dar!
È poesia, se liberte, se liberte, gire, gire e morra em trocadilho lento.
Noutros parques e tormentos
Procurando anjos para te sustentar
Onde mais podes ir entregar rebento?
Quero falar com Deus! Quero falar com ti!
Não deixe que as águas destruam muralhas
Não deixe descrentes invadir o templo
Preciso de amor que pinte as paredes pálidas
Vermelho transcendental de todas as encarnações
Preciso ser plano em outra cidade talvez
Preciso ser uma paisagem bonita para se escorregar
Preciso, preciso, eu quero.
Quero Falar com Deus! Quero falar com ti!

David Cejkinski

domingo, 5 de julho de 2009



DENTRO DE MIM É SÓ POESIA.

David Cejkinski

quinta-feira, 2 de julho de 2009


Para Camila di Stefano, Débora Gobitta,Jacqueline Torres e todas as mulheres.

Sempre sem mistérios

Eu gosto de ser mulher
O ser que brota abismos
Longe da terra
Sempre à beira mar, à deriva de qualquer historia.
Em terremotos frágeis
Que me dilui
Me traz cala frios nos lábios
Nos contornos, esse gosto que me suga mais
Para dentro e sempre fundo
Elevador de caricias
Milimétricas pistas
Morar a deriva
E o corpo renasce
Padece de útero
Escorrem óvulos ancestrais

Eu gosto de ser mulher
De beijar sem minhas línguas
Do tesão sempre à tona
De pisar em minha terra
Úmida, assassinada de fertilidade.
Amaldiçoada de vida
Nos vincos plenos
Como um grande campo em dia de sol
De rolar em mim mesmo
Sou o mar que acalanta e traz tempestade
Sempre naufraga de minha ilha
Na pele salgada
Do próprio veneno
Atlântida existe em minhas entranhas

Eu gosto de ser mulher

David Cejkinski