domingo, 28 de novembro de 2010

Confissão

To trazendo na mala uma coleção de paisagem
Para assistir feito cinema, com óculos escuros na cabeça
Desejo é filme
Paisagem que se vê pra sempre na pele
Minhas mãos estão paradas em sinfonia torta
Bernstein cansado
Maestro equivocado
Imagens perdidas espalhadas pelo chão do quarto
Um dia de sol encontrado nos pelos
Uma memória de açúcar
Aquela imagem cítrica nas dobras da pele
Em panela de algodão doce, festa-de-criança-menino
Quando um sorriso era mais simples
Amar as pequenas coisas
Ver as pequenas vitórias, chorar histericamente nas pequenas perdas
Vem, que eu quero abrir essa mala e espalhar pela sala
Sorrisos, mortes, dias de parede, poemas engolidos, doenças sintomáticas
Para sambar depois
Um dia faceiro
Encontrado nos cabelos
Depois da corrida no parque
Ser feliz não é fácil...

Em um dia-diário
Essa confissão de bandido
Para colorir o silencio
Do carrosel-calendário

David Cejkinski

sábado, 20 de novembro de 2010


Para Ana Crista César onde quer que esteja

Havia uma carta atrás do espelho
Um relatório punk
First class, do you understand?

Um palco giratório
Gato preto em teus seios
Um anel fullgás
Borrando seu papel lilás
Um sentimento blue

...a canção na praia
Aquela poesia escrita na área
A brincadeira de se enroscar nas cortinas
Enquanto dormia
Outra razão
Um rasgo de mordida no colchão
Pequeno-caderno-de- gozo

Em teus pés
Um coração faroleiro
Em altar enfeitado para santo
Uma-tatuagem-em-mim
Quero sim
Um livro farto
Capaz de fino retrato
Um relatório punk
Diário, um mito
Explicando esse seu grito

Não fique irritado amor
Isso não é filosofia

David Cejkinski

domingo, 7 de novembro de 2010


Entre os passos do meu sapato

Trespasso meu corpo
De ultraleve
No meio de um dia-aspirina
Um bilhete-de-guardanapo
Abandonado em balcão de padaria
Intensidade, é noite
Por onde ando volante
De caminhão-doce
Sem amante

De outro prumo vou sem juízo
Um rumo metafísico
Verso de engano
Sentimento Latino na mão
Gesto dolorido
Um salto tamanho
Voz de soprano
Batendo no asfalto
Sem rede de proteção
Por que não?

David Cejkinski