terça-feira, 27 de outubro de 2009


Sim, sobre o amor talvez
Sobre recomeço
Novas eras
Outras pontes
Sim, sobre paixão talvez
Novos olhares
Plenitude
Sim, sobre olhos doces
Bichos de pé
Rosas, mares de algodão-doce
Em meu intestino salgado
Sim, sobre outros atlânticos
Outros parques
Rodas, moinhos, seios
Sim, sobre mães zelosas
Sobre tortas de maçã
Sobre mel e azeite
Sim para os domingos-bares
Malas leves
Rodoviárias-feriados
Sobre meus naufrágios
Com salva-vidas no fim do reinado
Sim para mantras doces
Para poemas plenos
Menos herméticos
Para contar paisagens
Para saldar sorrisos
Completude
Para juventude
Aquele momento de ciúmes antes do beijo
Para matar desejo
Para comer pipoca
Para levar bronca da velha coroca
Para aquela chuva turva no meio do campo
Para espantar o espanto
Cozinhar o medo
Com chocolate mergulhado na pimenta
Para mover os ombros, as pernas, o tronco
Se jogar na estrada
Alice desengonçada
E enroscar-desejos
Para os sertanejos
Fantásticas estrelas no céu limpo
Estampado no azul-celeste do nosso destino
Para matar trabalho
Na montanha-russa
Reduzir os templos
Falar menos fiapos
Mover de si todos os nervos
Massacrar neuroses
Entender-se inteiro
Para ser cabreiro
Em lama de gincana
Doer menos segundas-feiras
Tocar e sair correndo
Bater punheta
Lavar-se inteiro
Sacudir o braço da vó
Beijar-se no espelho
Amanhecer dançando
No meio da semana
Fazer cócegas-queridas-em-gente-fofinha
Menos teimosia
Vendo cinema
Com companhia plena de fazer perder o ar
Ser meio-metido-a-besta
Rezar baixinho
Pedir pra Deus fazer de ti o melhor caminho
Para cortar revistas
Dever-muito-chato-de-casa
Apostar corrida na Avenida Paulista
E pedir com muito carinho:
Mãe vamos embora!
Contrabandear adultos para o Paraguai
Comer nentilha numa cantina
Ver o Peter Pan na praia
Jogar confete na bolsa de valores
Musicar fagulha no Teatro Municipal
Imitando tenores!
Mascaras, bonecos, fases e pessoas desfilarão
Quando disser sim ao ultimo tango
Bailar aquela canção...

David Cejkinski

sexta-feira, 23 de outubro de 2009


Bares, brisas, falsas ondas
Outras náuseas
Casas, labirintos
Falsos passos
Outras aventuras
Eu já não ligo
Sou um interurbano
Lilás, no fundo de tarde da paisagem-pia
Reflexo de meus pés naquela bacia
Em outras moradas
Vestindo roupa de toureiro em balada
Eu já não vou mais
Já não estou mais
Já não espero mais
Eu estou seco
Sempre alem, parte de mim
Que se esvai
Em qualquer conversa maldita na beira do mar
Que sussurra:
Um dia sua profecia vai recomeçar
Absoluto
Concretamente surdo e mudo
Jogando comigo de terno e gravata
Over the rainbow
Encontrarei um sax-sofrido
Sexuando um gemido blues
Desesperado
No rosto: um meio sorriso-cortado

David Cejkinski