
Na solidão os urbanos se divertem com os seus luminosos corações e outdoors de angustias.
Blocos de pessoas cantavam ao entrarem empurradas no vagão,”Isso é transporte de louco" uma velha disse. Em frente o moço executivo conversava com sua namorada provavelmente também sua secretaria, estavam abraçados. "Eu fui condenada a doze e já cumpri cinco, Jandira também vai ser assim, tenho certeza mulher" reclamava a velha. Um rapaz pequeno se masturbava por de trás da moça gordinha que segurava um livro de hematologia e sorria, parecia gostar. Corpos apoiados em corpos, suor de gente, cinzentas caras. Cidade, cidade, cidade. Mesmo parados debaixo da terra os corpos continuavam vivos, espremidos e suados. Pessoas de cimento e água seguravam escritórios, lojas, industrias, paralisados no vagão. E no celular: chamada perdida congestionamento. Estávamos correndo contra o vento no deserto. A menina pequena que estava com a cara assustada do meu lado soava muito e parecia ter muita vontade de sair dali, por um momento fiquei com pena dela até ela começar a me empurrar e jogar meu corpo contra um negro com caras de poucos amigos que estava encostado na parede do trem. Em fim a próxima estação estacionou diante de nós, a menina saiu e ainda consegui a ver na plataforma, ela se agachou e se encolheu, ao que percebi ela ficou ali naquele lugar por mais um tempo. De novo areia escura e corpos apertados, sentia agora uma estranha sensação nos pés. A próxima estação era ponto de baldeação para as linhas de trens, costumava-se a sair sempre muita gente, me sentia animado pensando na possibilidade de sentar. Um pouco mais de areia escura e corpos apertados, de novo nova estação. A porta abriu, todos ficaram paralisados como bloco de cimento pré-moldado. Ar de estranhamento no trem durante uns dois segundos. “Eu quero sair, mas não consigo, meus pés não saem! Qual é o engraçadinho que grudou cola no meu tênis hein? Olha que eu to armada!” gritou a velha que falava da cadeia com a sua acompanhante má vestida. “È eu também não consigo tirar os pés do chão” falou o executivo olhando para sua possível secretaria. Agora o vagão inteiro gritava sucessivamente sobre a paralisia, menos eu que de tão desesperado fiquei quieto olhando para a senhora de cabelos branco sentada a minha frente e pensando em como sair daquele inferno, o negro mal encarado fazia força com as mãos no teto do trem para ver se conseguia se mover dali, de nada adiantou seu esforço e o seu braço fedia mais do que o rio Tietê quando chove. Começou um verdadeiro caos no vagão, mas se ouvia também gritos vindos de outros vagões. Por toda a plataforma ressoavam as reclamações, pessoas pedindo socorro, pessoas histéricas, crianças chorando e nada de o trem partir, ele também havia estacionado a uns três minutos acho, tempo de mais para o horário do rush.